11 fevereiro 2009

Pesadelo

Acordo com o gritar daquele horrivel despertador que as sogras oferecem sempre depois do terço para pôr na cabeceira da cama... O corpo deitado ao meu lado, (desprovido de uma voz que outrora já ouvi e das caricias que se desvanaceram no caminho das fadigas e fugidas), aquele a quem ofereci a minha alma de menina, a troco de quase nada, descansa sem culpa e sem presença. Há muito que deixei de sonhar com a manhã feita de gemidos e loucura contida, de corpos suados e loucos envoltos e perdidos em si...
Lá fora existe um silencio que não ouço,!
Os gestos tornaram-se mecânicos, os dias tornaram-se vidas, que resumidas, fariam apenas um conto!
Ouço apenas o silencio que brota de mim, que me afoga, que me faz não ver...
A cozinha, a rotina, o ter que fazer... É assim a minha vida!
Tenho uma casa enfeitada, tenho a vida que disse querer ter, e ninguem sabe de nada...
Tenho segredos, descobri outros gemidos, ainda mais contidos na solidão deste ser..
Tenho um jardim na frente da casa onde fantasio partidas e viajo nos cheiros desses canteiros e nas asas dos que souberam voar!
Daqui não vejo nem terra nem mar!
Vejo apenas a distancia de uma vida tornada amarga, vejo as minhas mãos fartas, gastas, vejo os meus olhos secos e perdidos nesta vontade de chorar..
Não quero pensar.
Mantenho-me atarefada, assim tem que ser, deram-me as sobras desta vivencia forçada, e eu já não conheço a menina que corria sempre para ver. Já não vejo as cores da liberdade, casei-me com o medo de querer mais, ofereci a minha alma sonhadora, vendi o meu corpo sedento, em troca do que disse querer!
Hoje não sou nada.
Roupa e louça lavada, vontade calada de viver!
Talvez à noite ele volte para mim, talvez ele olhe para mim...
Vou apanhar uma flor do meu jardim, vou-me enfeitar, talvez ele olhe para mim!

Sem comentários: