06 fevereiro 2009

Tudo e nada

Ela correra apressada... Não gosta de chegar atrasada!
Antes tivera que rever duas vezes, cada passo antes de sair, as chaves que já tinha nos bolsos mas não encontrava, a certeza de tudo estar no seu lugar... Este desatino eterno cansava-a, quem dera ser mais atinada!
Não tinha certeza de nada...
Enquanto se arrastava atras dos eternos deambulantes de estrada que insistem em vangloriar-se agora da razão que a lei lhes deu, não deixava de pensar que só podem vir de vidas feitas de calma onde nunca se encontrou.
Ela precisa de correr..
A seguir à ultima curva da estrada, acelerou mais uma vez, já conseguia ver o mar ao longe, mais sereno do que esperava, este mar sem fim onde ainda hoje sonha em mergulhar sem sequer olhar para tras!
Mas nunca o faz!
Queria chegar primeiro, ter este momento só para ela, parar, sossegar e cheirar o vento que sopra e limpa as almas, queria molhar os pés na espuma branca que vai sempre mais longe do que esperava. Não se lembra nunca de não arriscar dar mais um passo até sentir a roupa inundada e recuar! Foi sempre assim!
Sabia agora ter cara salgada, o cabelo violado pelo vento, as maos frias.... A paz voltara a si..
E ele já ali estava, tinha chegado de mansinho, no sossego desse seu jeito de ser e tinha na cara um sorriso que ela nunca se cansa de ver.
Tinha vestido cores que o iluminavam naquela manhã fria e gelida, a sua aparencia deixava transparecer a grandiosidade do mais simples ser, de um corpo guardado em vidas feitas de conquistas e contrarios.
Olhava para ela e oferecia-lhe o que os gestos calavam, e sorria ...
Ela tremia, não era o frio daquela manhã, tremia no mais fundo da sua alma transbordada de mar e de vida... Na sua mão guardava escondidas as vontades e uma pedra!
Só a pedra lhe era destinada..
O resto ficaria só seu!
Sabia que aquele momento passaria depressa. Ao longe ouviam o rugido do tempo que era deles e que clamava não saber parar...
Olharam de novo, muito além do simples olhar..
À sua volta as cores, os sons, aquele mar, eram deles mas apenas naquele instante... Felicidade efemera! Nada mais lhes era prometido!
Em silencio, viveram o desassossego dos sentidos, adormeceram os corpos e despertaram as almas sedentas de mais, e certas que assim, o amanhã existiria!
A pedra, trouxera-a de um mundo seu, soubera de repente, noutra manhã que não pertencia ali... Carregara-a no simbolismo do entendimento do seu jeito de ser.
Era dele!
Em silencio, caminharam meia duzia de passos, o bastante para um arremesso certeiro. Para o sentido da vida, para o unico caminho possivel naquele tempo escasso, pequeno de mais para o que lhes era devido viver.
Perdeu-se na espuma branca, na setima onda mais forte, nas rochas do fundo...
Estava dito!
Voltaram a olhar um para o outro, não na mesma direcção, o fascinio dos contrarios e das vivencias por viver ficara ali....
Como corpos sedentos e almas amansadas, entenderam a caminhada...
A estrada pedia agora mais calma, o casal que passeava agora a sua frente já não importava, entendia bem o repouso das mentes cheias do culminar das trevas, da luz do entardecer, entendia a calma!
Ainda houvia o mar ao longe
Não precisava de mais nada!

1 comentário:

Anónimo disse...

Tens alma nas palavras.
Lindo... É a tua cara.
Parabens.
Tenta perceber quem sou.

Bj
RN