30 junho 2009

Girassois

Quando saio da estrada de minha casa, tenho um campo cheio de girassois.
Concordam em pleno, apontam um sentido e enchem de amarelo o que dantes nem sequer via.
Hoje, pensei que nestes dias, os meus episódios fazem sentido, por isso, parei à beira do campo, aspirei e repensei.
Gosto destes dias cinzentos, gosto da serra por cima das nuvens, gosto de ver o mar azul ao longe em jeito de teimosia e gosto das gentes de cima que falam alto e claro, gosto dos apertos de mão e do pó que fica quando passamos.
Gosto da alegria.
Tenho-me sentido sujeita e inibida, oferecida a um poder que não conheço, durmo com o medo que me habita, acordo com a certeza que me encerra. Não me revejo em lado nenhum e sinto falta dos momentos cheios de mim.
Ontem ouvi a historia de uma amiga, acompanhei-a até me prometer não fazer dela a minha. Os sinais clarificam-se à minha passagem, as vozes contêm sentidos, as estradas são secundárias e necessárias e, mesmo assim, remexo-me na inexatidão dos meus gestos.
Por uma ou outra razão, não tenho expressão, adio-a em compassos garantidos de outros passos que acredito serem mais meus. Sinto-me perto de uma loucura que me desperta e aperta e dou comigo a olhar incredula para a invisibilidade desta negação.
Passei por um espelho e garanti-me ser corpórea e então?
- Mas tu não vês?!
Sinceramente, nem sei o que sinto, umas vezes encanto e outras, desilusão, entrei num remoinho de emoções e contradições que me enlouquecem e remexem e as estradas convergem em caminhos e a seguir, nem sei de mim e sei que sou muito mais. Fecho os olhos e pergunto-me se tem que ser mesmo assim.
Sou mais que trocas directas, que razões e questões, amo por dentro e lamento, lamento tanto esta ironia. Já pedi a quem seja que lá esteja, que me guie, que me ensine, sou pequena nesta altura e de enxada na mão, nem sei como começar. Quero cavar em frente, uma estrada iluminada, não quero ficar parada a cavar o meu fundo.
Ser ou não ser, por querer, olhar e não ver, e a seguir já não querer cegar e, este mar em frente, ausente que me despe e estonteia, que desconheço e revejo, que me ocupa e esvazia, e nem saberia se lhe falasse de mim. Desocupo a minha terra, onde semeei pedaços de mim.
A pergunta que me faço sem responder, calada ainda e sedenta de uma luz que me iluminava e que agora me ofusca, parada e morta por voar, neste campo amarelo em que tudo aponta no mesmo sentido.
Será que me esqueci de mim?

1 comentário:

Eu disse...

Gosto de te ler, tenho-te acompanhado, continua, vou estar aqui a conhecer-te.
Parabéns