13 abril 2010

Era um sonho que fui reerguendo, das amarras de um medo que nunca soube porque vem, das profundezas de um poço quase seco que galguei esfolando os joelhos, agarrada às pedras quase soltas e a paredes de lismos. Subi por querer tanto olhar cada a vida, aspirar o ar fresco das manhãs, sorrir por qualquer motivo, adormecer com a leveza que não conhecia, talvez amar um dia e quem saberia não ser amada também? Os laços imaginários de ajuda, a força que não tinha, tendo, ofereceram-me todas as luzes do mundo, todas as cores e sorrisos, e uns abraços que aqueciam, mesmo quando a minha mente estranhava o calor das mãos estendidas.
Trouxe em mim, o negro dos dias que me fizeram e desdisseram, trouxe o amargo dos gemidos da demência incerta e uma falta de abrigo, uma sede de me fluir, de me dar ao caminho que os meus olhos haviam visto sempre sem vida, tantas vezes.
As madrugadas são mais frescas ainda, os meios dias carecem da agua que refresca e este mar, este mar que descobri a caminho de um horizonte matizado de mim, esta calçada de pedras e passos, lado a lado com a herança de menina feliz e mulher errante. Quem dera um dia, ter manejo em descrever o que penso, o que da minha alma emerge a medo, galgado o poço tão fundo que ainda vejo lá longe, cinzento, escuro.
Porque me debruço e olho, não entendo, vejo na restea de agua lamacenta, um reflexo da minha cara perdida, a refracção do medo e vergonha da vida gritada tão alto, dos gestos que me fazem sozinha, nos sitios que vou escolhendo, sorrir e sonhar.
Sou eu ainda? Sou eu de cheiro e de mar? Sou eu que vejo de cara ardente a insustentabilidade de não ser, não crer no que sinto, neste negar de mim mesma, refletido mais ainda no horizonte de fogo? Sou eu ainda?
A minha madrugada foram contas somadas desse sonho, que range a porta do dia, que a estrada seja já passada de encruzilhadas. A minha madrugada trouxe-me a solidão conquistada. Sozinha, esbracejo contra mim mesma, aprendo a ser gente grande e pequena nas mãos que junto, nas tranças de tanto que guardo comigo.
Hoje senti-me sozinha, afastada do medo, de tudo, escolhendo os minutos que diferem pelo sonho de fazer obra, não mais uma, a minha, de dar-me o sorriso de deitar fora as promessas adiadas e as perdas guardadas, a cada instante que passo.
Sou eu ainda ? Mote da nevoa tão clara que me avista, unica, sem ser preciso, mais nada.
Apetece-me chorar, não sei de tristeza, se de crer ainda, que uma vez na vida, me faça, mulher ou menina, tão longe, tão sem mascaras, sem medo ou vergonha, eu mesma, vista ou amada.

Quem dera este silencio ser um credo, a calma  serena, um caminho desperto de sentidos que gritam mais que o medo, um virar de esquina sem mosteiros, uma palavra entoada ao vento que aquece a minha cara, quem dera ser o Deus que fez os sentidos e negou a mente perversa e descrente, quem dera ser esta madrugada sozinha, um passo, uma escada em mim, visionária da maior lição que aprendi, uma lagrima fresca  que me escorra na cara, afluente de vida cantada.

1 comentário:

Menina do cantinho disse...

Não me sentindo cpaz de comentar tão belo texto, apenas deixo um grande abraço de carinho.

Beijinhos