05 abril 2010

Hoje durou tanto tempo... A minha cara quente, as mãos juntas , faço viagens sozinha, tenho andado tanto, tenho-me desgastado à exaustão num esmiuçar primeiro de cada razão, cada lição, tenho olhado estes pés pequenos que sabem andar, as mãos que agarraram com força cada pedra lascada de vida, quando ao longe, nem sol nem lua, mal se via qualquer coisa. Talvez por isso a névoa me encante e descubra, talvez por isso, escorre ainda agua na minha cara.

Hoje queria escrever muito, dizer o que sinto, como nas noites loucas que duravam um minuto, na minha loucura dormente. Queria gritar do fundo, não aceitei ainda este pedaço que trouxe comigo, não ouço, não quero, sou mais que  bonita, inteligente, interessante ou sem interesse nenhum, desigual ou igual na carneirada calada que vai passando, que há este bocado que me faz parte e é um estranho, um inimigo, tem uma boca rasgada de riso e umas mãos de polvo que me agarram. Tenho nojo do branco das salas, vergonha das palavras amigas de quem falou não sei com quem e, por isso, diz que entende... Como? como? se nem eu entendo ainda?

E as perguntas?

Atravesso-me na encruzilhada da mente, não estou doente, tenho paredes erguidas, tenho vozes, tenho o meu ventre em silencio, tenho nas mãos perguntas, tenho vergonha escondida nas palavras, tenho nos olhos o vazio de ter sido vista. "Só se é mulher, depois de ser mãe..." Li isto há uns tempos, como um verme rindo que me entrou, que me foi consumindo, e respondo-me  com esta voz de menina, respondo tudo, não me calo, respondo, mas em mim ficam as perguntas que me faço, as searas onde me escondo de olhos pregados nas partidas adivinhadas, na banalidade do mundo

Hoje foi tanto... Foi este silencio nesta praia deserta, foi o suspiro que me saiu, chamando.

No fim de cada conto, resta-me sempre a duvida..  Deixar-me transparecer, falar do medo da desistência, é mostrar as feridas que me fazem pequena , ser aparente é mostrar uma parede mais branca, sem nexo, sem conteúdo, mas parede tão branca, reserva de tudo. Sei o preço de me despir, sei o medo que tenho de me sentar ao colo e deixar-me ser simplesmente, pequena e tão grande que me sinto... E preciso, precisei sempre, não de acreditar, de sentir antes que saia de mim a voz que sair, sou mais que isso, sou vista, em vez de mais uma partida.

2 comentários:

marta marques disse...

POR TODO ESSE SENTIR É-QUE TE ADORO TANTO..
MAS TANTO....

AINDA HAVEMOS DE NOS RIR DE TODA ESTA MINHA 'IGNORANCIA'

Moi disse...

E o silêncio da alma às vezes ser esse tanto de que falas, mesmo sem entendermos porquê!...