16 abril 2010

Imaginei uma figura romana, de pedra talhada à mão, sempre gostei mais das pedras toscas de contornos misteriosos, imaginei um ar sóbrio e vitorioso no cimo de uma coluna de mármore, aparentemente inalcansável à primeira impressão. Meio envergonhada pergunto-me se estará lá em cima alguém. Majestosa esta figura, distante.
Também nunca suportei as naturezas mortas, fazem-me lembrar as paredes das salas de jantar das tias Custodinhas e Vitorinas, com a restea de nafatlina e os naperons a compor as mesas.
Sabes os passos disformes e aquelas quedas monstruosas que erguem gente? Sabes aqueles gritos tremendos que ninguém ouve? Sabes aqueles instantes em que o ego nos desmente? Eu sou uma amalgama, um novelo de sentidos e caminhos, jogo de esconder por não saber, ou por o rasgo doer tanto. 
Tenho vergonha de nas minhas mãos prender à exaustão, o mais evidente sentido, uns pedaços de granito aparente que guardo nos bolsos, no descrédito, no balançar do tempo, como um relógio no cimo de uma torre qualquer, vivo, ruidoso, e nem sei onde.
Sabes as mangas arregaçadas e molhadas que enxugo soprando, que é minha herança seguida, já não me lembrar quando aceitei acreditar no que nem sei se existe. O que sei é que sei mais que isto, esta claridade cega-me de tanto que me vejo sem ser vista, e as palavras, são a musica que me componho, são o direito ao sorriso numa terra estranha.
Sabes só saberes-te quando já não te negas mais? Erguer um dedo espetado em frente ao espelho e sentires mais que dizer que estás condenado a fazer-te feliz, que esta alma afinal é exigente no querer beber vida, no resgatar das palavras que me digo, porque preciso. Não são os livros, nem as bengalas, não tenho nada decerto, tenho a divida que me cobro de repente, sem manejo nem grande direcção, porque o que sinto, são vitórias nas derrotas do tempo. Um dia comigo, em silencio cantado e chorado, é tanto, uma loucura tão sana e dificil, uma treguas subitas, e uma guerra de seguida.
Sabes, sou uma mulher grande, com voz de miudinha irritante, ou mesmo pequena, abri uma porta de rompante e que já tinha aberto sem dar por isso, desfasada como sempre, sem retorno, aprendo todos os dias, até a palavra não a sair-me da boca. Aprendo da vida e da solidão, desabrigo-me e e revolto-me, zangada com a miséria das palavras desditas em pedra.
Que seja, está feito, já chegava deste engano, desta treta, nunca acreditei em metade do que digo, porque na verdade sempre soube que os meus olhos não sabem mentir, não sei porque me ouço sequer, há aqui um voz em mim em silencio que falou sempre primeiro e certeiro. É que eu tinha medo.
Já não tenho, estou arregaçada de medo, já não é meu, levo-o comigo para me lembrar que o sonho não comanda vida nenhuma, dá-lhe sentido, e saboreio com uma lagrima esta força contida que não veio de lado nenhum, estava cá dentro.
Estou cansada, cheguei agora, luto por tudo novo, é tarde, estou zangada, a mesma coisa tem a perspectiva que lhe quisermos dar, a verdade é que nem sei se as palavras falam do mesmo. Por mim, estou ferida e capaz de gritar bem alto cada trambolhão. As minhas mãos estão fechadas e vivas. 
Nunca senti isto, e nem sei o que escrevo, se calhar estou meia tonta, 
E não sei porquê só me vêem à cabeça parvoices.

1 comentário:

Moi disse...

Ler o teu texto pareceu-me movimentar-me dentro do teu espírito... uma sensação de envolvência no teu eco interior.
Lindo!

Angel