28 abril 2010

Nascente no fim


Sinto este sentir como um rio regressando à nascente que saltou na pressa, perto de um fim, reconheço o principio, ditado na voz que antes ouvia e não conhecia. Sinto o caminho como uma fonte onde me refresco, numa planicie soalheira que vou descobrindo, devagar, olhando em volta. Outrora, Adamastor, é agora um cabo distante, uma ponta de oceano que me descobre os sentidos,baixinho sussurra um brado novo, uma calma feita de mim, tão estranha...
A solidão cresce-me na saudade e esta foi a nascente do principio, foi agua que corria distante, e eu não bebia. 
A minha porta abre-se, chego a casa cansada, noite já farta, e respiro do fundo de mim, se mentira fosse era a chegada, que hoje é uma sala vazia que eu encho, de chá, de mim, de uma ponte enfeitada entre o vazio e a nascente de me saber assim.
A nascente, nasce, nasce agora como um sopro que faltava, saber estar assim, sozinha, fazer de cada pedaço de tempo, decisão, a medo que seja sentida, a medo que seja minha, que seja a tristeza misturada com alegria, que seja cada degrau coerente de uma escadaria.
O sofá que antes me cansava, é grande agora, sobra comigo deitada, a sala tem cores novas e quando chego a casa, há uma tela em branco, um silencio que já anseio, e dobro cada cabo de medo, e almejo a calma que trazia, e falo alto para me ouvir, e pinto e choro, se for preciso. Nascente, só isso, o desconhecido do principio, estar sozinha, saber-me assim num abraço.
Tenho em mim, um mar revolto, a distancia por herança, tenho o cobro do chicote que guardei a um canto. Aspiro o ar fresco da noite, adormeço o corpo carente e vou despertando, a caminho da nascente que tenho que saborear primeiro.

1 comentário:

continuando assim... disse...

sem solidão :)

gostei muito
bj
teresa