12 maio 2010

החשכה


Cheira a rosmaninho este momento, e se olhar em volta, sinto o gesto das estevas que nos envolvem naquele toque doce e eterno. Passei como quem passa da terra ao pensamento e vi-me num reflexo de um ribeiro que corria ao meu lado, pisava o leito com um som cantado ao verão, sedento por não secar. Vi-me e voltei para me ver com novo olhar, vi um sorriso que já não me via num tempo que me deixou ver melhor. Tinha um ar cansado, atordoado ainda, da distancia e crença que os sinos assinalam, para lá da colina dourada. Tinha os meus pés carentes de agua fresca e a cara seca de quente. Parei e ouvi-me cantar. Estranhei por ser tarde, e os sonhos terem-se já recolhido no ocaso multicolor que só este lugar transparece. Estranhei por ser um canto que já nem me lembrava de saber. 
Sinto as mãos leves como nunca julgara poder, nada esperar e nada querer, voltar um passo para me ver. Reconhecida pelo cumprimento de um rosto que, sendo o meu, ainda estranho e reconheço, sentido temido do meu caminhar. 
A noite vai caindo de mansinho, gritando em silencio uma canção de embalar, esta não conheço, enrolo o meu lenço ao pescoço e deixo marcado, neste lugar, um momento terno com o meu rosto.

2 comentários:

Manuel disse...

Provavelmente vou-me repetir, mas não interessa.
A Milhita, para mim, consegue escrever em prosa da mais bela poesia que me é dado encontrar.
Gosto de a ler e levo comigo um encanto que me conforta.

josé movilha disse...

Milhita , sinto-me feliz por tê-la como seguidora. A sua sensibilidade poética é cativante; os seus textos são paletas que transportam ao êxtase,o seu conforto à viagem é a esperança dos dias. É bom visitar um espaço como o seu,tornar-me-ei seu seguidor para repetir o enebriamento da visita.