19 maio 2010

Duende del Sur

O laranja, adormece na leziria como que pedindo baixinho que se veja, nas cores que são mais que uma, na luz que o rio transforma, de calma em chama que me arde nos olhos.
Tento deter a minha mente ali, num lugar desaguado que me ensina mais de mim do que de uma ciência árida, cume de um caminho que me será potencia. Brinco com números sem saldo, tenho sede crescente de me pensar, de me albergar numa memória futura, motriz de passos que vou aprendendo. Adivinho as curvas do rio, sinto-as nos contornos do meu corpo, como se o ocaso me despisse das palavras que nada dizem, somente um raiar de sentido que me apraz deixar ter.
Tento reter por mais tempo, um rasgo de luz que me aquece a pele e reflecte uma história que não consigo transcrever em prosa, arruinaria o encanto com que a sinto.
Concebo um mundo que se abre, conforme sou capaz de o ser, concebo uma estação de agua e calor, e de todas as sensações que os meus sentidos pedem, mudança de um rumo que se desenha na obra que me permito, concebo-me a calma que me fala mais alto, e a renovada saudade de me lembrar. Concebo o mesmo rio que ouviu mais que eu, a voz de um conto que precisava viver, preciso cada vez mais não aderir, não me dizer que faço parte sem o fazer, não me dizer que rio se corre agua na minha cara, ou que sei quando peço baixinho entendimento. 
Como se pode viajar tanto, sem movimento? Como se pode crescer sem ser primeiro? Como pode este instante ser pioneiro de um cume virgem, que me habitava sem o saber?  Tenho tanto a aprender...

1 comentário:

Moi disse...

Quanta saudade expressa neste teu texto!
E ao mesmo tempo, uma sede de crescer, aprender...
Gosto dos teus textos, com figuras de estilos muito próprias!

Beijito
Angel