21 maio 2010

A parte boa, é rever-me ainda agora, capaz de ser amiga, mais por dar que por ouvir, seja lá o que for, não me interessam as horas, nem lembrar-me que nos últimos dias, esqueci-me de dormir. É esta sensação de cansaço, que nos faz rir sem motivo e sentarmo-nos no alcatrão noite fora, rodeadas de papeis e palavras soltas. A parte boa, é uma vontade crescente de me desimportar do que verdadeiramente não importa. De madrugada, depois de um malfadado teste de Fiscalidade, de ter deixado esquecido no meio de mais papeis uma parte bem feita e de me ter rido à toa, desisto, não controlo, sento-me no chão, rodeada das minhas coisas, das chaves que não sei delas, de pensamentos que nem entendo, de cara quente por um momento que não saberia descrever, por saber que agora, não é senão este segundo, que um sorriso vale a verdade do meu rosto e que me elevo, nas inconsequências e na algazarra apregoada de carisma e teoria, não adiro, não quero.
A parte boa, é a paz que me envolve de saber que nada me espera e sentir-me cheia, são as caminhadas que me descrevem, passos desconexos, gestos sentidos por serem à toa. O que genuinamente me aquece, é a descoberta do meu espaço, sem eco, nem fronteira.
Tenho orgulho em não ser certeira, nem certinha, nem postada em coisa nenhuma, ser mimada, e outra coisa qualquer que o momento que se segue me haverá de mostrar.
Fiquei fechada por detrás de um portão que não se abria, não tenho pressa e, não faz mal, não interessa. Importa-me apenas manter viva, esta sede de ser, sem face oculta nas madrugadas isentas de resposta, que quero mais perguntas ainda. Apetece-me destruir palavras e atiçar perfumes, apetece-me brincar com o lume e afundar-me na onda mais alta, apetece-me não ser mais que alma. O que sou capaz, não se reflete, o que sei, não se diz, o que gosto é minha herança e as minhas mãos ainda espuma.
A parte boa é o silencio que me faz ser una e a voz que me chama por detrás das cores terrenas da estrada.
A parte que me encanta é este pousar de cabeça encostado na sombra, este respirar tão fundo, por coisa nenhuma.

1 comentário:

Jorge disse...

Milita,
Por vezes, fechamos os olhos com toda a nossa força, e, tudo o que sabemos é que estamos completamente sòzinhos, desterrados numa terra desconhecida, como que exploradores solitários, sem bússola nem mapa, será isto a liberdade!?
Não, confesso, e, às vezes, quase desisto...
Bj amigo,
J