25 maio 2010


Soubera eu ser mera esfera, ilha despontada no horizonte, que de sentidos se fizessem as teoria do mundo. Soubera lamber as feridas que me ardem nos olhos, doidas de as sentir tanto e culpadas nos meus gestos. Soubera não saber mais nada, desenquadrada da vontade de me dizer alto, de ser o alivio somente da voz que me fala. Soubera correr solta numa estrada, sem pegadas que ecoassem nas palavras que o vento me esboça, enganadas do desvio da equação. Não me vê o alcatrão, não me vêem as margens corridas que olham ao longe a bruma clara. O alivio de enfim falar alto, dos sentidos despertos numa madrugada tão clara, um acordar sem vivência do que a essência sempre ditou. Não vale a pena o sonho contornado e negado, não vale a pena o cais seguro ou a margem, não vale a razão que me ofusca de medos e contradições de mim mesma, não vale o ocaso em aplausos de vulgaridade. Não vale rebuscar-me, rebolar-me na lama dos conceitos, se o que sinto fala mais alto.
Soubera eu crer na impossibilidade aparente, cada uma, como uma pedra lançada às ondas que salta três vezes em despedida, como uma bruma fresca que nega a vivência desgastada, espuma que fica nas ondas que passam. Soubera crer nas minhas mãos cheias de nada, no abraço que me descobre, num poema que me falasse, ser sorriso lançado à tempestade, ser crente na diferença que me pede estrada sem rumo. Soubera ser o que sou, sem mais nada, esquecida, e desperta, um instante, um segundo.

5 comentários:

Miguel disse...

Soubera eu escrever dessa forma tão intensa, que prende da primeira à última palavra, tão carregadas de um sentir imenso. Adoro passar por aqui.

Moi disse...

Tenho de concordar com o Miguel é muito bom passar por aqui.

Beijos
Angel

Jorge disse...

Olá, Milhita,
O que a vida nos dá, é um certo conhecimento que, por vezes, chega tarde demais.
Bjis
J

Menina do cantinho disse...

Hoje venho deixar um beijinho

Menina do cantinho disse...

Hoje venho deixar um beijinho