10 fevereiro 2010

Este sitio foi-se tornando importante para mim, criei-o na vontade de acreditar que poderia construir do rol de ideias e sentidos que me faziam. Com o tempo tornou-se mais que isso, por vezes leio e retiro o exacto instante em que escrevia. Aos meus olhos, tem cores bonitas, por vezes feias, tem palavras minhas e outras fonte de ideias.
Tem vozes escritas de cada defeito e virtude, tem verdade sentida e esboços meio loucos, tem palavras de raiva, de dor, de alegria, tinha sonho, meio fantasia, tinha obra que os meus dedos às vezes criaram sem pedir licença à minha razão.
Perdi a voz de escrever, precisando de nela, me ver, perdi a coerência que os meus dedos ditavam e o corpo que é tão mais expressivo está distante, recolhido. Gostava de saber expressar o que sinto, penso que quase tudo ao mesmo tempo, ou então, apenas a necessidade tremenda de me sentir. E porém, secam-me as palavras que mal conheço, não as defendo.
Escrevo, escrevo um papelinho num café, com a lista urgente, sublinhadas as letras a sairem me da boca para falar acerca do meu mal me querer, a boca seca que anuncia o preço que já conheço, tenho escrito na minha mente estes dias, de horas, de minutos e segundos arrastados. 
Escrevo, desordeno as peças baralhadas, misturadas com mil adjectivos que comprei para me dar. 
E na minha cabeça, explodem, à razão de instantes, verdades envenenadas que nem bebo, nem mato, uma fraqueza demente, solidão, mistura jogada de convicções passadas e morte anunciada, simplesmente por acreditar em tudo, menos em mim. E foi sempre assim.
Arrastada pela obrigação de uma vez, me olhar de frente, tenho passado o tempo, em que tudo o que me é devido, apenas me passa, a perceber que na minha vida, gritei ter dado tudo, menos a coerencia de me dar a mim, que sonhei, que sinto como louca, mas os passos foram sempre pedintes pela não convicção do quanto sou capaz.
A guerra que me encerra, é só essa, porque cá dentro, eu sempre soube a obra minimalista de mim que hoje  me retrata, porquanto me rejeito e desamparo. 
Fere-me tudo, mais ainda por vazia, menina mimada pedir que me amparem, se não me aposto nem me acredito. E se me custa aceitar isso, como me custa o ar admirado como recebo ainda os resultados de cada esforço que faço e hesito, " se mostrar o que sinto...".
A meio da vida, tremo por dentro, porque me habito e adivinho cada palavra que escreveria, desembargada deste descrédito antigo em mim, nada mais que isso.
Talvez por isso, nunca me tenha visto, porque não me revolto contra a guerra sentida que não me dá mais nada a não ser pressupostos, duvidas, medo, descredito, que sei justificar, não valendo nada.
Tenho fé ainda, tenho fé numa voz que ainda me fala de mim, despejada do lixo vivido e desta loucura imposta. 
Escrevo agora sem mais nada, desabafo apenas, na esperança que a vergonha me faça crer, querer e poder.
Patetica dor da passividade, maior ainda a verdade de me olhar e perceber, lutei por tudo na vida, conquistei o que devia, só me esqueci que era  de mim que falava. 
O que guardo por dentro, sentido e tão maior que a minha obra, é agora força misturada para me olhar e mover. Porque de repente, assolou-me um medo de verdade de me ver mais à frente, sentada e ter de me explicar porque afinal foi a vida que passou por mim.

5 comentários:

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida amiga
belo texto, do fundo da alma.
como senti as tuas palavras...lindo.

Beijinhos
sonhadora

Olga disse...

"...simplesmente por acreditar em tudo, menos em mim. E foi sempre assim." Gostei muito deste teu post. A meter os pontos nos i´s contigo própria? São raras as vezes que nos lembramos que também é preciso. Adorei, mesmo muito!

Luís Maia disse...

Magnífico este cantinho que leio todos os dias mas raramente me manifesto.

Menina do cantinho disse...

Bonita reflexão. Acho que deveria fazer o mesmo.

Beijinhos!
P.S. Tem um desafio no meu cantinho

Miguel disse...

Um belíssimo e envolvente texto. Prendeu-me da primeira à ultima palavra.