01 outubro 2009

Passar




Um velhinho descansado, assiste ao passar dos apressados, dos viventes e dos que já partiram, das avalanches de gente ensaiada e programada, dos que riem e dos que sofrem por dentro. Esboça um esgar cansado e compreensivo, acena ao de leve com o chapéu já gasto de ser amigo.

Conhece para além desta estrada, já a percorreu antes. Não por um qualquer motivo, procurava entender o alcance dos seus passos . Apaixonou-se por uma tez morena, pequena, com um sorriso do tamanho da calma, mãos de fada que bordavam em cada dia, sopas de pão e gestos bonitos e envergonhados. Nunca mais quis ver, pediu a Deus que lhe desse o dom de retribuir, com carinho o amor que sentia.
Entendeu a sua caminhada nas noites amenas que passava acordado, agradecido pelo colo em que descansava, pelo olhar que o via.

Hoje, os seus companheiros saltam à sua volta, enquanto este velhinho sorri e ver passar. Mais vivo que cada um, o seu olhar é cada momento em que percorre outra estrada em pensamento. Memórias cheias de uma vida feliz.

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