25 janeiro 2009

Despertar

Não acordava de manhã, nunca quando o dia poderia reclamar a minha presença, acordava apenas quando o meu corpo reclamava a unica fonte da vida que conhecia, quando o meu corpo e a minha mente despertavam para uma realidade impar... Construida por mim, louca desvairada, tropega, sofrega, adormecida da vida, da outra... Longe dos sonhos e certezas, dos valores, adormecida e avida desse viver marginal, desse sopro ofegante ...
A minha mente centrava-se no unico e verdadeiro instinto animal que conheci, sobreviver, não sofrer, não sentir ou então, sentir muito mais além do que qualquer um com que me cruzaria na rua na minha louca ansia de voltar a adormecer...
Os dias tornar-se-iam vidas, sofridas, ofendidas, loucas...
Os meus dias... criminosos da minha alma de criança, num qualquer bairro sujo, de almas podres, tao podres como a minha, vendedores de quartas e ladroes dos ultimos vestigios de dignidade humana julgada marginalidade querida...
Sofri, matei todas as cores do meu arco iris, tornei-me tão cinzenta como aqueles de quem escarnecera e recusara ser, sofri mais ainda por perceber o quão longe seria capaz de ir... Deambulei pelas ruas trocando pedaços de mim em troca de um qualquer abrigo da minha furia e desespero..
Rendi-me a ela, vendi-me por ela!
Renasci dela!
Guardo comigo o meu passado acarinhado à custa de cada dia soalheiro que redescobri, guardo o que aprendi, guardo o lado escuro de mim, guardo a noção da minha fuga, guardo o preço da minha luta, tudo me completa e pertence ... É meu, só meu...
O Hoje, o agora está aqui e eu percebi o seu valor, amanhã é demais, ontem fez-me estar aqui,ser assim, cheia deste viver unico... Cheia deste querer, cheia de um mar de sonhos que reclamo a cada momento, cheia de mim e deste outro sopro de vida, deste desejo de ser...

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