17 janeiro 2009

Os Homens das Cordas



Feios, velhos, derrotados pela vida, sem nada para dizer e nada para ouvir, apenas falar, falar, vomitar a raiva que o dia a dia não os deixa recompensar...
São muitos, milhoes, não se escondem, exibem a sua figura desgastada, farta, esperando que um dia alguem note, alguem veja para além da brutalidade que se espelha no olhar.
Quis a vida, quis um acaso infeliz que me cruzasse com um, que enfrentasse a sua miseravel e triste presença, que ousasse responder à raiva que o consumia perante um episodio que nada aspirava a zangas mas antes a ajuda, tão querida e tão necessária que senti nesse dia.
Alguem me levou junto dele para que lhe pedisse um favor, um simples par de cordas...
Não sei quanto custam mas, naquele momento, eram preciosas para mim...
Chovia, estava frio, estavamos perante uma situação dificil, precisavamos daquelas cordas, precisavamos colmatar os danos de um incidente inocente, triste, mas de consequencias enormes... Simplesmente, na vontade de ver e ler o sorriso e alegria de um filho, o Paulo tinha-o levado aos limites da sua coragem, livres, contentes por viverem, pela liberdade de gozarem juntos um gosto comum, as suas motas ficaram presas num terreno qualquer, num lamaçal sem fim...
Depressa arranjamos soluções, ficara para tras a mota pequenina, mas já tinhamos um tractor e até nos riamos da situação, ao ver a dificuldade que se nos deparava...
Depressa deixariamos de ter vontade de rir..
Vieram os homens das cordas...
Vorazes, raivosos...
Enquanto nos atolavamos cada vez mais na nossa impossibilidade e na lama da terra e dos outros, crescia em nós a surpresa, a impotencia daquelas vozes hostis que nos apontavam, que riam, que durante tantas horas, ficaram prostrados à beira da estrada, com os seus fatos de domingo, rindo e aquiescendo da nossa situação, do nosso "crime" contra eles, contra o que julgam ser deles, porque nada mais têm a não ser aqueles palmos de terra e uma vida cheia de nada.
Conseguimos... Juntos... sem olhar a mais nada, conseguimos...
Ainda hoje, o homem das cordas, percorre a distancia necessária para nos lembrar do quanto odeia não ter sido assim... da mulher desgrenhada que desistiu há muito tempo de querer ser feliz, do pedacito de terra que até gostou da visita e do protagonismo, da nossa vontade, da nossa vida...
Quer as cordas dele, partidas... Quer mais que isso, quer que sintamos o que sente!!!
Não queria umas cordas novas, queria que voltassemos a chafurdar na sua lama para trazer as dele!!!
Coitados dos homens das cordas !!!!

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