31 janeiro 2009

Entardecer

Repouso agora neste entardecer cinzento, chuvoso, quase violento, a minha alma já serenada por um renascer de outra madrugada
Sinto-me renascida nesta tarde, ressarcida do que noutra tempestade esvaziara em mim.
Os meus sentidos agora despertos, buscam os sons mais refinados e escutam como se disso dependesse o encantamento deste ser.
Tantas cores neste arco iris que avisto além, os meus olhos despertos, cintilam e vibram com este bailado de cor, de vidas precisadas de viver para chegar aqui.
Guerras entoadas noutras madrugadas nas quais as palavras feridas me soltaram de mim e me deixaram morrer e renascer em seguida...
Vejo ao longe a crueza da maldição que deixei atras, vejo promessas escondidas, gestos sem perdão.. Evasão!
Sinto que atravessei escarpas, pisei trilhos escondidos, vasculhei grutas, corri em busca da razão e do entendimento de uma alma desgarrada, por mais nada, apenas ser!
Olhei atras e ainda vi as palavras doidas, ainda me doem feridas rasgadas e nao tratadas por ainda nao saber aprender onde encontrar perdão... noites passadas em sobressalto, unhas roidas ate sangrar, um sopro ininterrupto de agonia a cada minuto em que nada tinha sentido a não ser a necessidade quase atroz de não sofrer mais.
Quis entender, não soube perdoar, quis esquecer ou não saber, mas saber antes para depois doer ainda mais...
Olho agora mais distante e, meu Deus, como eu entendo esses momentos de sentimentos puros sem culpa, sem motivo... Fui cruel ao falar, fui tão dona de um saber que nunca seria meu!
Quis pontuar cada momento, dar um adjectivo a cada gesto, estava afinal vazia e incapaz de olhar na mesma direcção.
Acarinho-me nesta tarde de memórias e gratidão por mais um entardecer quente e ameno, cheio de palavras brotadas do mais fundo do meu ser... Apaziguo-me nesta certeza de sentir com razão, da madrugada consentida na mais completa e verdadeira essencia de saber onde estou, onde quero chegar e a plenitude deste meu ser.
Não quantifico, não qualifico, é assim por ser!
É puro, verdadeiro, nasceu virgem e sem motivo e soube dar-lhe um nome e expressão, soube guerrear em mim uma batalha dura para chegar aqui, a esta clareira de onde avisto um mar ao longe, imenso e cheio de vida, e tudo está assim no seu lugar!

Sem comentários: