06 julho 2009

Explosivos Desastre Explosão

Começo com o titulo bombástico na esperança de constar nos primeiros lugares dos motores de pesquisa. É isto que se quer, é disto que se gosta.

Antes disso, explodimos nós, de impotência, pela indiferença e hipocrisia reinantes.
Pelo meio ficam, talvez, as emoções e o suor de quem trabalha e acompanha, de quem sabe antes de falar, de quem vive. Para lá dos microfones, ficam as lágrimas da esposa anónima. Aclaram-se as camaras, buscam-se as as perspectivas ao jeito de quem julga e pensa saber.
Não sabem, nem poderiam, não querem ver!

Fica além do texto o meu silêncio e admiração por esta gente calada e sofrida, vergada a patentes pensantes e inconsistentes que falam, mandam, emitem e omitem, e esses sim, poderiam saber, em vez de se limitarem a roncar e sancionar.

É verdade. Houve um acidente. Haverá sempre aqui e em qualquer outro lugar onde gente simples trabalhar e outros olharem de cima enquanto se arrogam o direito de tutelar e regulamentar antes mesmo de entenderem.

É verdade. É perigoso. É cruel.
Vi o olhar de cada um, um a um. A submissão e o conhecimento que advém de anos de experiência e respeito por substancias explosivas. Não servem só para atentados, nem actos terroristas. Lamento informar que são mais nobres que isso. Servem para vos fornecer o prazer de se sentarem à soleira de uma porta de moca, ou cortarem fruta na bancada de granito, ou criarem obras de arte admiradas e iluminadas, servem para as vossas estradas e para as calçadas que todos pisam.


E para os que restam e se esverdeiam sob a bandeira da falsa ecologia, leiam antes e olhem em volta para o que saboreiam enquanto escarneiam "bocados de serra arrancados à vista", para a hipocrisia reinante deste e daquele que nem ousa sujar as mãos de pó e ouvir esta gente anónima e tão cheia de vida, que vos serve, que sobrevive onde outrora minguava de fome.



Gostava de vos ouvir, de vos ver sair de tras das secretárias e virem comer uma bucha, debaixo de um bloco sombreiro, quarenta graus à sombra e ainda rirem. Gostava de vos ver, calarem perante quem sabe e arrisca, mais um dia, à força das contrariedades impostas e conscientes por mais uma multa e um ego insuflado e oco das "autoridades"












Uns, arrojados, deslocados e revoltados, de capacete ou disfarçados, falam mas calam, conhecem, olham, olharam e perceberam, um acidente à vista de toda a gente, não foi inocente, mas seria evitavel, se outros, mais acima nos deixassem trabalhar.

Hoje houve um acidente.

Não foi uma explosão como a Tv gostaria, nem houve fuga de explosivos para Espanha como faria jeito a muita gente. Foi apenas e principalmente um acidente numa pedreira de calcario.
Uma pedreira que visito, que gosto, que forneço e onde aprendo.
Uma pedreira onde se transpira e trabalha e, na maior parte das vezes o encolher de ombros se torna regra.
Uma pedreira branca, toda branca, onde gosto de lavantar uma nuvem de pó, quando passo, onde o sr António se senta numa pedra a falar comigo e a Anabela um sorriso lindo quando eu chego.
Gosto tanto desta gente cuja voz hoje tremia...
Aprendi com esta gente e sinto hoje a regra básica que ninguém ouve. Transportamos, manuseamos, substancias que todos temem, respeitamos, porque raio haveriamos de nos pôr em risco?
Leis e mais leis, leis que não revogam leis, prepotencias de quem responde "É assim porque nós dizemos", perguntas sem resposta, pedidos, atrasos, lapsos sem acusação, risos debaixo de bigodes, não brinquem com a vida desta gente.
É deste lado que estou, aqui faço parte, sofro com eles, faço kms com o perigo comigo, para a seguir, vergada, ver-me obrigada a responder, sentir-me criminosa, perante aquele olhar irritante de quem não ousa fazer o mesmo.
Responder!
Deixem-se de merdas!
Queremos viver.
Queremos trabalhar! Estamos a tentar trabalhar...
Onde é que estava esta gente toda sempre que vos quisemos avisar?

1 comentário:

ArteBela disse...

sandra chorei quando li porque sei que pouca gente da valor a quem trabalha em pedreiras onde trabalhamos para ganharmos o nosso dia a dia para podermos pagar ca,carro,impostos e tudo mais e julgam-nos como se fosse-mos uns coitados obrigada por tares do nosso lado e podermos contar sempre comnosco bj miga