14 julho 2009

Viva la vida

Cumprimentei o sr. Herminio e sentei-me para almoçar. O ecran na parede debitava noticias sem interesse nenhum, a meu ver, porque a mim, o que me preocupa é estar a meio do mês e a conta negativa, é sentir-me enfaixada em contas para pagar que até parecem apelativas a quem ouve dizer. E agora descobri que tenho o vidro a rachar e nem sei quanto é.
Acho graça à quantidade de vermes que, depois do acidente, me vêm perguntar como foi. Como se eu soubesse ou quisesse dizer.
"Ele estava a fumar, não?'"
Outro dia no Gigas, disseram que o homem ficara impotente. Mas de onde vem esta ansia de podridão? Não vêm as noticias? Não sabem que afinal não se passa nada?
Apetece-me gritar às vezes.
Chamar nomes às pessoas, acho que me ia sentir melhor.
A rapariga que serve às mesas é engraçada e também lhe ficava bem um palavrão. Aos homens, desmancha-se em sorrisinhos e a mim prega-me com o cesto do pão.
- Já só há frango... (nunca comi aqui mais nada a não ser frango)
Abro o meu Plano Infinito que ando há meses para acabar de ler.
Tenho calor, dormi pouco e sinto-me cansada.
Chego a ter saudades dos almoços aqui com o sr Aleixo. Pelo menos ele fala e eu como outras coisas sem ser frango.
Tenho umas musicas na cabeça.
Ultimamente, a musica comove-me.
E voilá, para variar, eis que chega a cambada do gabinete de contabilidade que só mulheres, são umas quinze. O resto da minha refeição de uma perna e um peito de frango é passado de olhar fulminante para esta gente. Gritam e riem e guincham, todas ao mesmo tempo. Todos os dias é isto. Não evito olhar para debaixo da mesa e divertir-me com os sapatinhos e unhas pintadas de cada uma. Se calhar, devia calar-me, com as minhas sandalinhas cheias de pó.
Não me consigo calar.
De onde é que vem esta gente?
As conversas andam à volta do "Dança comigo" e da não sei quantas que arranjou casa em Alcanede. E por fim, há uma que enceta uma risada quase histerica com uma piada do obviamente patrão.
Fecho o livro com meia página lida e digo à minha simpatica empregada de mesa que vou beber café lá fora, até porque tenho os nervos em franja e quero fumar um cigarro.
Dai até respirar fundo de novo, quase meia hora. O multibanco não passa, o café não vem e para pedir factura quase preciso de me vergar.
Há dias em que detesto esta terra.

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