11 julho 2009

A vida não começa aqui?


Parabéns minha tia!

Nestes dias, paro sempre e remexo nas minhas memórias, memórias presentes de tempos distantes, que me confortam e deixam saudosa. Não sei porquê, prefiro sempre essas, de quando era mesmo uma menina bem comportada.

Tenho uma imagem iluminada de ti, cheia de caracois e com um fado misturado com um sorriso na boca. Ainda sei de cor o da menina das tranças pretas e agora lembrei-me do Tio Eduardo e dos cantares alentejanos, vou mudar de ideias...
Pronto, já voltei a ti.

Estou aqui, sabes? Sou meio arisca, meia cabra, que atrasa sempre o importante. É como se o que sinto me bastasse e, por isso, os telefonemas que reclamas, ficam sempre para depois. Não percebo muito isso em mim, mas é assim.

Gosto muito de ti, minha madrinha, retive a tua cara fingida, todos os dias, sorridente, presente, naquele quarto quente onde me vi prendida, de saquinho na mão e sorriso na cara, sei que a seguir até eras capaz de descer aquela ladeira a chorar, mas para mim, o mundo lá fora, esperava-me de cara lavada.
Ensinaste-me o valor de não saber, de negar e contestar, a mais valia de não me misturar nos rebanhos desta vida. Também eu hoje pouco sei, mas estou tão cheia de vida, como sempre te vi.

Hoje vou ter contigo, de cabelo curtinho, muito curtinho, voz rouca, e prometo-te o mesmo sorriso. Gosto dos teus abraços, dos teus cozinhados, gosto tanto de ti!

Gosto das histórias que tu e a mãe me contam, sempre em versões diferentes, histórias que não vivi mas que se refletiram em mim, gosto dos teus abraços apertados e do teu cheiro diferente, gosto do amor que não tens só por ti.
Às vezes, apetecia-me contar-te, coisas só minhas, mostrar-te que não precisas de me explicar pelo tanto que te entendo, pela admiração e carinho que tenho. Penso em ti e vejo uma casa de fado e um xaile preto e acho que pertences ali. Sempre achei que há um tempo que chama por ti e até nisso me revejo, como se nada ainda tivesse começado ou terminado.

Gosto dos teus caracois dourados, da tua cara rosada e da tua voz calma. Sinto os teus silencios e os teus gritos calados, sinto as amarras do teu tempo e sabes, ainda te vejo a sorrir!

Parabens minha madrinha linda.
A vida não começa aqui?

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