20 outubro 2009

Bem vinda, chuva

Às vezes, penso nisto. Penso hoje que a chuva é bem vinda a esta terra. Que saboreio o cheiro da erva molhada e piso a água que sobra.
Penso nas pessoas que sinto. Nas poucas de quem gosto.
Penso que sou egoísta ao ponto de as saber sem tocar, sem muitos gestos concretos que o reforcem. Mas é só porque o meu coração transborda delas, distantes todas fisicamente.
Tenho um mimo excedentário de infancia. Veio de uma velhinha linda que me acolhia no colo e me ouvia enquanto me afagava o cabelo, de uma mãe terrena e serena que me ilumina o caminho, de um velejador ausente, de tão presente num amor desmedido. De uma irmã linda que me conhece e acarinha, como sempre. De umas luzinhas pequenas, que me aquecem com sorrisos e brincadeiras.
Tenho no meu coração cada momento que ficou, que me marcou. Não são muitos. daqueles que enchem um olhar, que ultrapassam a razão, que transbordam de sentir.
Tenho uma solidão preenchida. Como se nos dias que passam, me fizesse acompanhar, mesmo que perdida.
Sou mimada por isso. E, em vivencia, caminho comigo. Conduzo sozinha, almoço a ler livros e marco-me em sitios que escolho.
Mesmo assim, tenho umas mãos pequenas, que se movem sem impulso, por sentimento. Têm o alcance do vento, visitam num instante o que me ilumina e estremece. São os meus gestos mais sinceros, aqueles que não  se expressam. São luzes que ofereço, sou eu desarvorada, sou eu encontrada no que me viveu e ficou. São pedaços de mim que me completam e não são meus.
Sou mimada ao ponto de chorar por nada. Eu sei porquê. Sou antitese da imagem, sou a ultima impressão.
Em mundos separados, completo-me, por isso não despeço a minha sede de sonhar, mesmo à distancia.

Chove muito enquanto escrevo. Gosto tanto de encarar o céu e molhar a cara nesta altura.

4 comentários:

sonja valentina disse...

revi-me aqui por momentos.... e entendo-te.

sonja valentina disse...

revi-me aqui por momentos.... e entendo-te.

Sonhadoremfulltime disse...

Poderoso este momento de prosa, quer pela forma, quer pelo conteúdo. O máximo compromisso entre a criação, talento e imaginação.
Adoro andar à chuva e senti-la aitar-me o rosto.

Abraço

Luz disse...

Tal como a Sonja também me revi aqui em alguns momentos, este sentir, esta forma de o mostrar aos outros, de nos darmos até sem termos de dizer ou fazer nada, por vezes, basta um olhar, um sorriso, uma lágrima..., o silêncio...
E, a chuva é refrescante em tantos sentidos, gosto de a sentir a correr pelo rosto até ficar encharcada e a roupa colar no meu corpo.

Abraço