25 outubro 2009

Cheguei primeiro. Estou no alto de um negro sombrio. As luzes que conheço apagam-se ao retornar da hora. Tenho espaço, tenho tempo, tenho medo.
Grito eu tão alto que possa, grito calada do mais fundo que tenho.
Grito o silencio do julgamento.Não vês que te amo?
Caminhei até aqui, doeu-me andar descalça, vergada pela incapacidade de não saber fazer de outra forma.
Doeu cada momento de uma convicção da minha morada, da minha voz e de nada me pertencer.
Nada é nada. Nada é silencio.

Sei para onde caminho. Passos meus, sofridos. Horizontes coerentes que não vês.
De outro modo, não saberia, levo comigo uma vida que pretendo construida. Sonho com partilha, mais que oferta, sonho com a fidelidade sentida mais que falada, zangada por ser só minha, por nos momentos desprovidos de fé, ter-me a mim, sem mais nada.
Tenho na minha cabeça uma dor que dizem ser manifestação do meu sentir fisico. Não passa.
Levo comigo cada tropeçar, cada fraquejar, levo-me inteira e desperta.
Levo uma mão cheia de mais que palavras, de passos novos para mim, levo o tempo que precisei até aqui. Sou pequena, sei que sou. Sou um acordar urgente, como se me erguesse de uma dormência induzida.

A verdade é que mesmo em silencio, tu acompanhaste-me no rasgar mais duro da expressão. Obrigaste-me a enfrentar o medo que semeei por dentro. Esvaziada, é assim que me sinto. Os caminhos escurecidos, iluminam tão devagar o que sinto enfraquecido em mim. Percurso meu, de fantasmas cadentes, sem presença no meu destino. É contigo que eu estudo, é de ti que bebo nos meus dias.
Sem presença, estou contigo, sei-te sem voz, sinto mais que possas equacionar, por respeito.
Não rastejo na podridão da ilusão, sou mais que isso. Vivi o ceu e o inferno em formas inteligentes de moldar e planear. Despida, tu não me vês.
Não é a tua morada, habitas em mim, desde sempre. É o meu passo, o meu conflito de crédito.
Doi-me uma vergonha profunda, da minha fraqueza consciente de ser mais capaz, da verdade de mim.
Doi-me a falta de entendimento, num gesto distante e inquisidor, soado nas letras do abcedário e mais umas tantas composições alienadas.  Desistencia disfarçada e entoada de vento. num rufar de tambores.
Sou culpada, eu sei,  sinto por uma vida inteira que senti quase nada, mesmo querendo.
Olha o meu horizonte, guarda em ti a morada, eu vou por inteiro.
Na minha imagem, em campo desenhado, liberto por cada um, numa calçada de areia e de ardósia que aguarda as palavras que faltam,  de sol nascente e adiado ocaso, é assim que hei-de chegar, amanhã, onde pertenço.
Sempre tive o drama do atraso, sou vagarosa nos meus passos mais sinceros, tropeço, olho em volta. Mas é para ti que eu caminho mesmo sabendo que quando chegar, tu não vais mais estar. Porque algures no meu passado alguma voz me ensinou que me envolve o som efemero da desistência de mim.

2 comentários:

O Profeta disse...

Parei na viagem de rumo e estrelas
Sentei-me à beira de uma lagoa sussurrante
Um Milhafre fitou-me zombeteiro
Hesitei na procura do adiante

Na ilha há sempre uma criatura em vigília
Há sempre um feiticeiro vento
Há sempre uma flor que a alma seduz
Há sempre no acontece um mágico momento


Bom domingo


Doce beijo

marta marques disse...

És magnifica Sandrinha.....lá veio uma pequena lágrima ao meu encontro ao ler-te.....senti cada palavra deste texto, que sendo teu, senti-o como meu ...

adoro-te