27 outubro 2009

Do lado de cá



Do lado de cá, mal se vêem as sombras dos barcos ao longe, as ancoras, já arrumadas deixam o espaço que o cais molhado escondia. Lugar de descanso antes da partida.
Única, sem semelhante, os meus cabelos curtos prendem-me a face à terra que semeio, colheita salgada de ventania que florescerá um dia. Não divido  o som ao meio, não olho nascente, nem oriente, os meus olhos enchem-se de um só lugar, horizonte no final de estrada.
Memória minha, soam portas batentes, estridentes que ainda ecoam, outras que não vi abrirem-se e ainda aquelas a que espreitei, só para me despedir de seguida. À  porta da minha alma, deixo uma rosa pequena, com cheiro de Alentejo. Não se desiste do que existe. Despedem-se antes nas correntes amenas de novos portos dançantes.  Deste vislumbrar vibrante de um olhar apenas.

O meu nevoeiro é maresia que de clara faz um quadro. Loucura libertada da alma que viu o despertar de uma madrugada que ainda não foi dia. É como se deste lado, os contornos se fundissem, num emaranhado lindo. São dias negros de noites iluminadas. Caminhos que se multiplicam, dormência acordada, palavras que não se ouvem. É esta musica do tempo que, de passado, se faz hoje.

1 comentário:

PAS[Ç]SOS disse...

Na multiplicidade dos contrastes desfaz-se a neblina e o sol romperá no olhar duma estrada rasgada por entre segredos do paradoxo.