10 outubro 2009

Involução desordenada

A minha cabeça ecoa, gritos de dentro e de fora, uma dor que me transporta e assola.
Uma loucura alienígena que me assalta e maltrata, exercitada por mim.
Estou esvaziada , no espaço que esta dor preenche. Dor física e mental.
As lágrimas soltam-se ao ritmo do esboçar dos meus lábios, não me reconheço neste enfraquecimento crescente.
Fecho-me, isolo-me, não quero ninguém que me toque e perceba, não quero que se veja.
Hoje, alguém entendido, em ar de exame exaustivo, perguntou-me o que queria se pudesse pedir. Respondi, num instante salgado que apenas queria que alguém me levasse.
Esboço um sorriso enquanto domino, julgo poder, enrolo-me e escondo-me, perdendo-me. Estou perdida no que me vejo.
Ocupo os minutos, ouço-os passar de tão grandes que são, reduzo-os a um átomo em correria. Os opostos não se atraem, a fisica matemática é irreal agora. Ergo as espadas em riste, guerreio e enfraqueço. Tropeço num chão desconhecido.
Reformulo funções, reduzo a uma memória os caminhos que percorri tantas vezes, imagem que me assalta e não sei despedir. Julgada achada na caminhada de vida, no regrar emocional que me conduzia, estou perdida numa estrada de neblina.
Já não é a reacção, já não me zango nem fico triste. Já não sonho. O exterior está apagado. É uma involução desordenada, um sussurro de enfraquecimento que não manejo, por muito que tente. É revelação que me fere  de tão viva e mais forte. É descobrir o que pensava ter fechado numa mão.
Articulo-me e desconcerto-me em cada organograma de razão, este vazio é tão escuro que me perco... Não sabia que o sentia desta meneira, não sabia que após me ordenar, o caos me havia de assolar.
Já não me interessa a expressão ou a sua falta, estou comigo em guerra e paz, arrependida do que não fiz e grata por não, rastejo na convicção que merecia a batalha que não travei, e despojei em meu paço.
Sufoca-me a minha criação.
Sufoca-me mais ainda a não criação.
Engasgo-me num soluço que é agora só feito de mim.
Enfraquecida.
Estou triste e doida.
Abasteço-me de evasões, livros e notas, renego-me e envolvo-me numa expressão calada e falsa.
Não sou forte, não sou grande.
Passo apenas disfarçada.
A distancia e o silencio, entranharam-me, engoliram-me, ficou uma mão de fora que segura uma cabeça que me doi tanto.

1 comentário:

Luz disse...

Arrepiei-me agora com a força destas palavras que brotam dessa alma em luta permanente e, que não consegue um apaziguamento...
Confesso que quase imagino todo esse sentir que sentimos em certos momentos...
Quando sentimos que perdemos tudo..., que nos levaram o melhor de nós como se nos roubassem...
Mas seguimos de cabeça erguida e, queremos sentir de novo e se alguém quiser ver o que nos levou, vai perceber com o que não ficou, porque permanecemos na nossa essência.
Vamos a acreditar mesmo de alma assolada.

Abraço sentido