15 outubro 2009

Lugar com vista sobre um por do sol vermelho, carregado de um entardecer sossegado.
Entre conversas maniaco depressivas sobre a injustiça de se ser avaliado pelo "chefe que só me quer tramar" e um encantador formigueiro que descobri a dois passos do cinzeiro de acesso universal, escolhi sentar-me num canteiro e ocupar os dez minutos que distam entre cada aula, a admirar o vai vem do instinto. Mil ideias me acercaram. Gozei de mim na ilusão do enquadramento pseudo racional.
Na verdade, de frente ao raiar de um anoitecer quente, assaltam-me razões que a razão desconhece. Desordenei a minha tropa intuitiva em prol de um movimento mecanicista. Desprovi-me de elementos, tornei-me devedora de todos os gestos sem sentido que se acumulam cá dentro.
Sinto falta do meu sorriso, sinto falta dos kms que fazia a cantar alto, ando zangada com o mundo. Devo-me e não me pago. Caloteira de mim mesma.
Hoje conversei comigo. Percebi que me entendo se não pensar.
As imagens confluem na interrogação...
Gosto de mim, se calhar sou a que menos me acarinho, sou a que menos me entendo mas, é assim que caminhei. Parei no momento em que me detive a pensar.
O que ficou, mora em mim, sem voz nem reflexo, vento elisio que me aquece numa caminhada marcada de peças que vou despindo., sem nexo, sem tempo.
Depressão? Acho que não, sou só eu que me descubro tresmalhada neste falso formigueiro.

2 comentários:

Sonhadoremfulltime disse...

Olá amiga,
Por vezes é bem melhor a admiração de um carreiro de formigas que a vista de uma cambada de rebanhos em plena pastagem citadina.
“… se calhar sou a que menos me acarinho, a que menos me entendo…”
Conheço de cor este pensamento que me martela a todos os dias, todas as noites.
E sei que o meu domínio sobre os outros, se é que ele existe, é insignificante.
Sou sempre ultrapassado na curva. Demónio, como me tentaram apelidar, talvez, mas de punhos de renda.
Patético, eventualmente com frequência, perturbado, muitas vezes. Admito. Delirante, igualmente mas, civilizado.
Conhecedor das regras da decência e da conveniência como ninguém.
Tipo irmã de caridade. Porque neste capítulo da persuasão, apenas tenho no meu curto currículo aquela história de uma colega, que amava loucamente um engenheiro electrotécnico de alta burrice e que sem esperança de qualquer género desejava a morte.
Após uma noite e com grande empenho da minha parte, já queria viver e ria-se dela própria à gargalhada. Tinha encontrado a felicidade.
Não sei o que fiz… até hoje!

Abraço

Luz disse...

"...Gosto de mim, se calhar sou a que menos me acarinho, sou a que menos me entendo mas, é assim que caminhei. Parei no momento em que me detive a pensar."
O começo é um bom caminho, mas depois há que dar continuidade. Começar a cuidar, a acarinhar, a entender e, caminhar, parar para pensar, mas com este sentido novo de que aquilo que habita em nós é o que mais importa, é o essencial. E, aqueles que não fazem parte do nosso caminho o melhor é deixa-los fazer o seu que nós fazemos o nosso, só pode acompanhar-nos quem merece a nossa companhia. Por isso, vamos cuidar de nós porque o merecemos :)

Abraço com muita luz