03 outubro 2009

Luz que espreita

Acordei com palavras, surpresa, incrédula. As imagens que guardo, o meu sentido de vida, luz que entra em mim e espreita. A mesma voz que me açoita, que me conhece ao ponto de saber onde doi, é a que me incendeia por dentro, que faz a minha face ferver, que me desperta e mata, mar de mim que passa, que fica, que me inunda em laivos desmedidos. Artista que me pinta, que me toca, que me ausenta.
A minha nudez desconcerta-me de tanto que a pedi.
Houve um tempo em que a ventania me cegava, morte lenta, rebento latente, grito demente de medo de não poder, de não protagonizar o que me assiste. Como me enganei calando o tanto que ouvia de mim, do medo fez-se vivencia sentida, da solidão fez-se vida, dos passos dormentes, sorrisos e horizontes.
Chorei, desentendi, guardei no mais fundo de mim, as memórias que me despertaram, em cada uma, uma ausencia: a necessidade de pensar. Cada gesto tinha vida própria, cada sorriso era a expressão mais pura do que sentia, os meus dedos procuravam a extensão de mim.
Tenho em mim um desejo tão grande de acreditar, tenho em mim mais do que a minha criação, guardo cada instante em que me revi, tenho medo desta nudez capaz de me doer tanto. Tenho uma luz que me guia, sem direcção, tenho o meu sono adiado por cada momento em que vivo.
Os gestos que prendo, que guardo, alcance de um sonho que escondo na débil ilusão de me defender. A minha reconquista é mentira, dei-me a quem me despiu e viu, mais do que eu via em mim. Da visão, fez bonecos em teatro de marionetas, alheio e inquisidor, albergou-me a alma e delegou-me a acção. E se pedi que me desse a mão, ganhei a ausencia sem voz.
Guardo essas e outras, guardo as lagrimas que escondi.
Guardo um abraço tão grande que não dei.
Guardo tanto.
Estou tão cheia do que tenho e que escondo em muralhas de razão.
O retorno que nunca daria, a frieza que não entendo, o silencio.
E mais ironia, hoje perguntei-me, se sou eu...
Ou se desentendo.
Eu não sei, eu só sinto.

1 comentário:

continuando assim... disse...

o silêncio mata devagarinho quando queremos ouvir uma voz que nunca vem

bj
teresa