31 outubro 2009

Praia revolta




Despertei. O chegar embalado da noite, adormecera-me, encostada num rocha negra sombreira à maré meia, embalada em ondas, molhada. Sonhara com a tua chegada quente e ainda sentia nas minhas veias  a tua presença,  Noite clara de Lua cheia arqueada de espaço. Ouvem? É a voz do tempo que se espraia noutra praia, é o som dos velhos e dos nascidos, os que sabem de dentro, é a musica antiga que este mar conhece.
No cimo da serra fronteira, o vulto de ninguém.
Sabia que outro caminho se erguia, de pedras rasas, sem nuvem de pó, em silencio. Cheguei tarde ou cedo, cheguei à minha praia deserta, ergui a minha voz contra os elementos desordeiros. Já nada se vê no horizonte, os barcos partiram em frota ordeira e as gaivotas em debandada. Sabia que algures na serra tu vagueavas, admiravas vales fecundos, partilhado de romarias festeiras e mãos vazias de ofertas.
Ergui as minhas mãos, gritei do mais fundo da minha alma, uma  voz que calo há tanto tempo, um grito por cada pedaço  de mim, pela minha alma escondida que ninguém sabe ver, por este mundo sublime e sujo de gente.
Cansada, dei um passo, dois, ao longo da praia revolta de sabor a ti, percorri-a... E aguardei.

2 comentários:

continuando assim... disse...

e não encontars-te o caminho.... :)

bj
teresa

Anónimo disse...

Isso de ir á minha Praia devia pagar imposto :) Tens expressoes encantadoras.Gostei muito de "a voz do tempo que se espraia noutra praia" "admiravas vales fecundos e maos vazias de ofertas""um mundo sublime sujo de gente" e "praia revolta de sabor a ti" É bom demais. Tenho-te lido especialmente alguns comentários teus e fiquei com a sensação de que te conheço.Ou de que, pelo menos, já pisámos os mesmos trilhos.