29 outubro 2009

Não sei escrever hoje




Se falar agora, a minha voz ecoa neste espaço sombrio, se gritar o sentido que me toca, fico sem tempo de tão longe que se ouviria. Tenho os meus pés descalços rodeados de uma agua fria anunciada. Maré tão vazia quanto eu.
Se chorasse agora, os meus olhos não verteriam senão a cegueira que me envolve. Esgotados da água salgada que me aquecia tanto.
Não sei o que dizer.

Não sai nada.
O que sinto é um silencio que me leva a vida.
Queria pedir, calar esta voz que me soa, convicta, corsária de convicções, enganada, queria-me vista. Queria ser sentida mais que desentendida à semelhança de tudo o que não sou. A partida, vivia-a de medo, calada, descrente na mudança. Não muda o dia sem que a noite acorde. Vejo braços traçados, sorrisos por nada ou por tudo o que se nos assemelha, vejo a distancia trocada por albergues passados e luas cheias. Vejo a minha cara desfocada e potenciada em outra faces. Sou culpada, meia.
Não sei escrever hoje. Estou vazia , partida, sem vida.

O meu amigo está adormecido, de olhar triste, sem reacção. E eu, quieta, aguardo que acorde e me veja. A cabeça embrulhada numa amalgama branca, colada. Esperei que adormecesse encostado ao meu colo, gostava que ao menos ele despertasse e lhe pareça que não aconteceu nada.

3 comentários:

continuando assim... disse...

:) , vai acordar e vai sentir que aconteceu quakquer coisa :(

bj
teresa

PAS[Ç]SOS disse...

Quanto é difícil, por vezes, vazar de nós esse vazio que nos enche e rouba espaço para nos sentirmos capazes. A escrita fica em branco. As palavras não existem. E quedamo-nos na espera... de que o vazio se encha, que o nosso regaço se aconchegue, ou que um olhar nos chame.

Anónimo disse...

Soubeste dizer uma fotografia fiel de um momento unico. Imaginar a praia a lagrima por tombar o amigo ali ao lado. Creio que nunca vais.. não saber dizer. E juntas-lhe uma calma adocicada que me confunde agradavelmente. Lindo.