28 agosto 2009

Almendre

"Desde tempos imemoriais, o Homem olhou o céu"

Junto a uma encosta suave, voltada a nascente, uma estrada pedregosa que levanta poeira castanha, nada em volta, apenas calma.
Passei aqui horas que se estendem no tempo, na minha essencia, nas raizes da terra que me dá vida, nas evasões das conjugações e concessões, este sitio, acalenta a minha calma e imaginação.

Imagino a intemporalidade deste espaço, ouço as vozes ancestrais, sedentas de entendimento, os traços nas pedras assumem uma presença que me encanta. Vejo-me rodeada de espiritos dançantes e de sombras soltas, ensaio o achado machado de pedra  polida.

Em todos os dias que aqui estive comigo, encostei o meu corpo ao mesmo monólito, em cada tempo, a minha sombra pareceu reflectida de forma diferente. Sapiencia exacta do que não vejo.

Sombras. Traços eternos.

Outras vezes, quis trazer aqui alguém, alguém que ao olhar, também visse esta sabedoura calma.

Nas planicies laranjas, nos sobreiros paternais e azinheiras serenas, os meus passos são soltos, dormi sestas envolta no trigo quando era pequena, feri as mãos para apanhar amoras e espargos, tive um baloiço num chaparro, pisei uvas e bebi agua no meu cocho. Apaixonei-me pelos mestres da cortiça, pelas tias que lavavam roupa no tanque, tenho tantas memórias, tantas histórias que me acompanham.

Passado o caminho, em Valverde, os homens acenam, os silencios emanam o gerundio da fala que compreendo. É desta gente que gosto, gente presente que me ensinou a mestria do tempo, e a também eu, se quiser, olhar o céu.
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