20 agosto 2009

Carta a mim III

Vou antes falar contigo.
Afinal, lembras-te de criarmos esta face de sonho para nos lembrarmos? Que significado teria senão, o libertar das minhas mãos, aqui, deixá-las falar o quase inverso dos meus dias em que és tantas quantas preferires?


A tua face quente, esconde esse sopro de alma vigente, instalado e despropositado. Vejo-te tão mais criança agora, sei seres capaz de empurrar o mundo e o quanto as passadas são pesadas agora. Sei da voz que te acompanha, sei da tua vontade de fugir. Sei tambem que lá fora, nas vozes pausadas, ninguém cobra, ninguém chama, e aos teus olhos tudo parece um mecanismo engrenado por vontades ancestrais, os dias sucedem-se em catadupa, andamos, fazemos, engrenamos.


Anos, vidas, ouvimos histórias, invejamos, rejeitamos, atraem-nos os contos antigos, as pisadas impensadas, as planicies laranjas, vivemos numa cidade dormente, sem vida, cumprimentamos sem resposta, sem apelido, a lua amarela de outro dia não deixou de nos chamar, os passos de flamengo, as palavras sentidas que deixaram de ter lugar, a tua bicicleta, as azenhas, o mar!


A meio da tua vida, a nevoa amiga deu lugar ao sol e, este tão maior, nasceu, mas tu já o conhecias, as passadas na areia eram as tuas, as fugas.
Queria oferecer-te os gestos ancestrais que te dão vida, queria embrulhar-te em fantasia, a vida que conheces, a tua.


O sonho comanda a vida. O tempo dá-nos força.
Seremos crianças sempre, capazes de ordenar castelos no ar e vida. Acredita por favor no que ainda não sabemos e vemos, seja o que for.
Seremos tudo ou nada, paradas e envelhecidas, não!

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