25 agosto 2009

Correntes Adversas

No meio do meu caminho, cansada e desavinda, com a vida em desalinho, sento-me, naufraga das correntes adversas, da ironia da minha vida, no areal da minha praia deserta. A dormencia, não era um sono qualquer, fruto de gestos inconsequentes ou caprichos carentes, era o de uma mulher perdida e descoberta, entre o sonho e a vida, entre limites finitos, vontades e medos. Dormi dias, meses talvez, perdi-me do tempo, naufraguei nas correntes adversas do meu pensamento. A minha ausencia desperta, pedia caminho.

Esfrego os meus olhos de espanto, de corpo dorido, perdida nas descobertas e suspeita em palavras sofridas, ainda mais perdidas. A magnitude do meu olhar desenquadrado, quase me enlouqueceu e turvou a visão, como um fogo rasgado no ar, indecifravel, incompreensivel. As minhas mãos inquietas, a loucura dos meus gestos, pequenos, incongruentes, na escuridão, as minhas mãos que buscavam luz, uma luz qualquer, um alumiar de vida que guiasse um caminho que preciso percorrer.

Aos olhos que não veem, apenas olham, adquiri a imobilidade da pedra, atrasando lançá-la à terra, semente divina da qual germinaria a civilização, ideias claras, forte convicção, desgarrada e sem chão, confiada a missão solitária de mudar e governar a terra, fundar a civilização plena e glorificar os dogmas da criação e destruição. O meu sonho, levantar-me e caminhar.

Quebrou-me a desresponsabilização, a descoberta da banalidade, é minha esta cruzada, a alvorada da minha civilização, imposta pelo varejar do vento, do sol que descobri num abrir de porta, um sol que me esperava por tras da neblina. que agora se encobriu e apagou. Soltam-se verdades amigas, bandeiras de outrora, o sonho comanda a vida, mas as passadas seguidas não se transformam.

Foram muitas as horas em que tentei refrear um emergir vespertino, temente de não ter lugar, que obrigava a minha mente a rodopiar como se me lançasse num pião, tentando compreender, indagando a ironia, buscando ajuda e certeza nos meus passos. Certeza tão minha, de cada pedaço se erguer em busca deste sol, das epopeias de ideias, em noites claras, desafiando a minha razão.

Medito agora, "na libertação dos destroços do meu passado", o concilio divino, assiste, calado, em jeito de cortesia, invadem-me descobertas poeirentas, não me chamam, implacaveis, soltam gritos estridentes que me invadem e inundam de medo e desatenção.

Mergulho os meus pés na areia quente, este espaço reflete a minha solidão antes de me erguer, dilacerada e de cara ardente, esqueço as mãos dadas, relembro a minha caminhada, nas esquinas sombrias, invejando os casais abraçados e os abraços que não sinto.

Sei não poder falhar, rogarei aos deuses a capacidade de lamber as feridas que teimam em sangrar, debeis, os pedaços caidos, o despertar dos meus sentidos, olhos perdidos, caminharei em silencio, troco o meu mundo, recebo em volta, nada mais senão eu... O direito a falar mais alto, o direito de me mostrar, como sou, pequena...
O meu lugar que nunca descobri e,....

Seguirei os loucos que, destemidos, penetram nos reinos povoados por demonios, confirmando a sua autenticidade, buscando o sonho, rumo à irracionalidade guardiã da razão. Leio a "Coragem para mudar" partidária, esquerdista, baseada em experiencia não vivida, observada, raiada de julgamentos certeiros.
 Percorro a vida, em vivencias terrenas, desordeiras e desconexas, as minhas, não deixarei serem promotoras da minha essencia, o que sabia, sei mais hoje, jogada injusta, mas minha.

Estou cansada, sinto-me cheia e vazia de mim, sinto-me sozinha à ombreira da porta que abri, que já não é minha, rogo ao vento que leve este medo que me assola, desconcentra, ajusto-me na convicção, deito um olhar à desresponsabilização, hei-de saber, um dia que esta semente de vida foi regada por mim.

Lançar-me-ei ao mar, como um dia sonhei!

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