02 janeiro 2010

A desilusão são palavras, tal como é palavra a ilusão,  no esvaziar das estações. São folhas secas numa estrada por percorrer, são raizes contorcidas de evasão.
A ilusão é mais clara, mais transparente. A desilusão é escrava das sementes não germinadas, é antitese das palavras loucas que nos saem sem reacção. Os meus gestos são gotas de orvalho, num imenso campo verde, cheio de amoras que não colhi e de transparências opacas e desiguais.
Sou eu que sinto este arruinar de mim que me faz nascer por dentro em vagas de turbilhão.
Sou se não durmo e desperto, sou adornada de conceitos. Sou na varanda que me cega onde corpos se enleiam, sou medo do meu medo. Por uma vez, que Deus me desperte, que me dê a magnificencia do entendimento das antiteses e de uma desilusão que finde, que finde, que finde, por fim.
Estou exausta de silabas e silencio, estou sedenta de expressão. Esfomeada de horizonte, estou trespassada dos dias que não passaram por mim. Estou cansada.
Estou maltratada na minha criação e os meus olhos não cegam à falta. Falta disto, falta daquilo, de tudo e de nada.
Transparencia, ilusão.
E que resta de mim assim?
Restam as redeas soltas da minha indagação, restam imagens crueis e palavras hostentadas de negação, por gozo ou ironia, por mais não se saber. Rodam cachimbos de agua em bafuradas descomprometidas e alienadas. É nesta tribuna de madeira que range igualmente, que togas ensaiadas, rezam e ensaiam juizos,  de martelo em punho e eu, sentada, sem reacção.
Mais não restaria que o mero ensaio de vida, desprovido de si mesmo.
E o meu medo?
Desilusão é minha velha conhecida. Traz no umbigo a mesma cruz, tem a mesma cara escondida e cinzenta. Não é cigana nem desordeira, não é nada a não ser simplesmente ela, ironia e dormencia.
Eu viro-me do avesso, travo guerras comigo, guerras de espada e rosas, guerras de silencio e doença, de ilusão, ilusão minha que um dia pedi que cruzasses o mar inteiro, só por mim, por mais ninguém. Que gritassemos e gemessemos de convicção. Excluo-me de esperas descomprometidas.
Há um fogo que me arde por dentro.
Onde estou eu? Nem sei!
Numa fronteira, eu sei, mas qual delas?

2 comentários:

Gisela Rosa disse...

Um grande abraço Milhita.

Quue todos os dias deste ano e de outros lhe tragam felicidade. Obrigada

Sonhadoremfulltime disse...

Também ainda procuro a minha fronteira do coração.


Abraço e Bom 2010