19 janeiro 2010

Ver e não ver

Tenho medo do escuro, ou seja, tenho medo do que não vejo, por muito que olhe.
Desde que me lembro que a diferença entre ter os olhos abertos ou fechados, tem que significar ver nada com umas luzinhas de vez em quando, e ver qualquer coisa. Abrir os olhos e não ver nada, é medonho. Lembro-me que sempre detestei a brincadeira em voga na minha infância que consistia em não ver nada e andar aos encontrões à procura. A "cabra cega"!. Nunca gostei, principalmente porque associado ao medo de não ver, era a certeza de estar a ser olhada e tocada repentinamente de todos os lados.
Nunca percebi a brincadeira.
Fui percebendo, que a minha reacção a não ver, é investir depressa, correr, antes que o que houver me encontre, me veja.
Também percebi, numa esquina qualquer que não escolhi, que o escuro pode ser também não ver, estando de olhos abertos. E a investida pela minha cegueira, foi algumas vezes, cruel demais para o tamanho que tinha. Hoje, limito-me a abrir as janelas e a acordar com a luz do dia, a olhar para a lua nas noites frias e tornei-me amiga do nevoeiro.
Não sei se gostava de ver tudo, sei que não ver nada é demasiado.
Não sei se gosto de julgar que vejo quando a cegueira me abarca
Não sei se sei o que vejo e se olho na direcção certa
Não sei se entendo o que a minha vista me mostra e se apreendo o que o meu olhar me oferece
Por isso, sinto
E doi-me a vista.
(mas isso é porque tenho os olhos vermelhos de olhar demais e não ver nada)
(e porque um senhor de bata branca me disse que estou cansada)

1 comentário:

Olga disse...

A pior cegueira é a emotiva. Aquela do quando nos referimos "Mas como não tinha percebido isto antes?" A outra cegueira como quando jogavamos à cabra cega nunca me assustou. Ainda hoje jogo no meu quarto à procura não sei bem do quê.