24 janeiro 2010

Papelinho

Cheguei agora de um percurso silencioso, demorei a chegar, parei muitas vezes envolta numa escuridão fria, resvalei em escarpas, acordei vazia, transpus correntes de agua furiosa, teci retalhos em madrugadas geladas, vi contornos apenas, revirei-me na cegueira que não conhecia, apelei aos meus sentidos por mais um passo, roguei caminho, perdi-me de mim enquanto ao longe fui ouvindo tempestade.
Toquei textura que desconhecia, vi campos desolados de histórias e estradas chorosas de mal passagem, vi margens que aguardavam silenciosas, perdi-me em caminhos de relento e mentira.
Cheguei agora.
A minha história chegou comigo, envolta numa manta de retalhos que fui tecendo.
Cheguei cansada e dormente.
Olhei à minha volta e vi fome, sede, toquei cada ferida que trago, cada contorno de silencio.
Não sei onde estou, não conheço este sitio, conheço somente o que sinto. E é tão forte...
A minha vida foi feita de caminhos, claros e sinuosos, de opostos fortes herdei os meus contornos e agora, sei apenas que nenhum será nunca capaz de tirar as cores ao meu mundo, de apagar o meu olhar de longe, de me ferir de morte, de me tornar em amargura e escuridão. Isso não.
A escuridão é só uma mascara. A ilusão é uma margem que não me vai abraçar.
Cheguei agora, vou dormir, comer, beber, vou escrever um livro colorido, e a seguir vou rir-me do caminho negro, vou pintá-lo até desaparecer.

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