30 janeiro 2010

Monte do Pilar

Enquanto ouço vozes , talhadas de moldes frios e sem sentido, o meu corpo insistia em aceitar jornadas seguidas de peso e conversas interminaveis comigo. Olhava ao lado e via nada, um banco vazio, uma distancia inquebravel entre mim e o que aclama conhecimento.


Fica mais uma viagem, pedaços depositados aqui e ali, caras novas, um abraço onde menos esperava e tanto que precisava, pela profunda desilusão em que me encontro.
Pinto o meu quadro de cores, escolho a dedo as musicas, os traços desenhados de passos, neste dia, não acreditei em sonhos, acreditei em magia, não acreditei em laços, acreditei em rasgos dormentes e por um dia, só um dia, desviei-me do caminho, embrulhei-me no meu casaco quente e calcorreei as escadarias, envoltas em silencio, no cimo de um monólito maior que tudo, do cimo, do meio do caminho.


É tremenda a sensação de pertença, não agrupada, não arrebanhada, não pedida, nem concedida, oferecida apenas, depois de centenas de kms tirados da pele, de transformar o sim no não, a verdade na mentira e o jogo na orquestra da crueldade pretendida.
Fica isto, uma hora, num lugar qualquer que descobri porque ainda agora me desvio.

Lá em baixo, aguardavam imposições, no alto sentada, desliguei-me de tudo, que preciso, ouvi só o silencio, pensei nos magotes a caminho de um qualquer centro comercial e ali, onde o mundo respira, ninguém, sons do mundo, de pássaros, de neve ao longe e musgo que brincou comigo nos joelhos raspados na pedra, nas quedas, nos tropeções para me sentar no cimo e erguer os braços.
Pensei nos violadores, ladroes, mentirosos, saqueadores, respirei, não estão aqui, se estivessem não via isto, via a igualdade entre o cume e o sopé, apenas.
Mais tarde seguiria, com tempo para dar um abraço a Margarida de sorriso lindo, que as mãos herdaram o preço da vida fora de secretarias e escadotes, beberia café quente com os homens que conhecem o preço da distancia, de me sentar nas escadas da fabrica a dizer mal dos homens fardados, que detesto, de ver as horas e não ter pressa.

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