17 agosto 2009

Mãe

Lembro-me de ti com uma voz quente, andar unico, passadas tão mal ouvidas por quem rasga a vida em cavalgadas infinitas e indomaveis, as tuas, marcadas sentidas, seguidas por mim em direcção a um pôr de sol laranja, sombreado de azinheiras contadoras de histórias.

Eras diferente, filha de uma terra distante que nunca deixaste e que te obrigaram a abandonar, atravessavas o rio que te atormenta, em silencio, como sempre fizeste na vida, de olhar fixo em cada sentido, mãos fechadas em abraços só dados, no ninho onde me despertaste, no berço da minha vida. Minha mãe.

Até hoje me proteges desta senda de devaneios e intransigencias. Olho em volta, aqui sentada, as nossas imagens vividas em retratos, este sitio onde descansas, os teus livros, os sonhos refletidos em artefactos bonitos, o cheiro do Alentejo que és tu. O verdadeiro é já diferente, mais arisco e inventado, visitado e invertido.

Encostas a cabeça no teu próprio abraço, sofres, dava tudo por te oferecer a tua vida, minha mãe. És a luz que conheço, és o que acredito ser, ouço mais que a simples aparência do embaraço, ouço os gritos reclamando expressão, ouço-te em mim, ecoando canções, lições, perdões.

A tua capacidade de perdoar....

Se houvesse verdade

Abraçarias hoje um ser tão grande como tu.

Correrias numa planicie só tua, nesse pôr do sol que me mostras todos os dias, livre de amarras e aceitação, pequenina, do tamanho das ervas altas que te acarinhassem, de tez morena e um eterno sorriso que é o teu.

Deve-te a vida minha mãe. Olho-a e admiro o quanto nunca te fez hesitar. Amo-te tanto minha mãe, nas tuas coisinhas, na tua ilusão, neste sitio onde me albergo, me relembro, na imitação do jardim que devias ter, na imagem despedida do homem que nunca foi o teu. Está algures, o teu, sentado, de cachimbo e ar ausente, à beira de um ribeiro corrente, à sombra, carente de ti por, num momento da vida, se terem cruzado sem ver. Apetece-me encontrá-lo!

Ficas tão grande, escondida atrás da imagem cega dos teus dias. Quem olha vê-te assim. Não precisas minha mãe, vejo-te maior descalça, viva!!!

Embaraço-me a escrever. Sinto mais que isto.

O teu braço ferido será só e apenas mais uma expressão do que quer que seja que esta vida sem sentido, insiste em te fazer.

Amo-te tanto minha mãe!

1 comentário:

dyanna disse...

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