14 janeiro 2010

Vinha para casa, acarinhada por "gente normal", menos imagem, menos racional, vinha devagar demais, só para contrariar a minha mente que todo o dia não parou de correr à minha volta. Num cruzamento qualquer , virei ao contrario e desci aquela estrada serpenteada que antes cheirava a jasmim, cantava B. Fassi e chorava ao tempo que não passa e que peço que não fique, desci mais depressa, cheia de uma vontade que é mais minha que o nada que se vê. Passei a ponte de ferro, com o Alentejo no Norte e a esquerda onde deve estar sempre, desci ainda mais e parei, abri a porta, sai, voltei atrás para rodar o botão no máximo e andei na escuridão até ver o rio começar nos meus pés, aguado e apressado como eu.  Levantei a cara e deixei-me inundar de agua que cai com toda a razão, deixei as rajadas de vento entrarem em mim, e esperei que me levantassem do chão, estou demasiado presa à terra, pensei, por isso esta agua na cara e nos pés acalma-me. Não quis pensar em mais nada a não ser estar ali e lembrei-me de uma lição que aprendi. Quando estivesse assim, que fizesse a segunda coisa que me viesse à cabeça.
Sentei-me num resto de areia molhada, iluminada pela vontade, naquela tela de uma ponte sem cores, sombreada de escuridão e água, tirei do bolso a ligação à terra e, do outro lado, a voz ainda mais normal . " Estou aqui".  Desliguei, grata por saber que, no fim da corrente, o meu mundo tem ordem, na normalidade dita estranha e desenquadrada.
Deixei as mãos pousar, fechei os olhos e ouvi a minha história ser levada na corrente que acredito ser assim forte, fiquei ali, hipnotizada de mim, sem norte mas certa, esperei que fosse, levantei-me dei dois passos que outrora daria de mãos dadas e lancei o que restava guardado e meio. não vi onde caiu, não sei, não tive medo, só me lembrei de sapos e da história de um principe qualquer... Molhada e mais calma, voltei pela mesma estrada mas só até poder escolher e ainda ver do alto, luzes ao longe e quase que desenhei no horizonte apagado, uma estrela só para mim, chamada Camila, como a menina da história mais bonita que conheci, que ninguém conhecia e só andava quando já ninguém a via e dizia " Vou partir, daqui, para mim!"

1 comentário:

Manuel disse...

Não li, devorei as palavras.
Senti, como um encantamento de magia,
essa força do ser e não ser.
Lindo!!