08 setembro 2009

Hoje

Hoje o rio e eu, brincamos. Corremos, escondemo-nos e ora ele me encontrava, ora descobria-o eu, no virar de cada curva de um novo caminho que percorri.
Este rio negro e esguio, traz-me memórias que agora substituo por novas, mais valiosas, as outras, meses tristes em que adormeci ao seu lado, encarcerada, obrigada a quase render-me à escassa imagem minha que nele transparecia.

Inibida de me perder nas musicas que me servem de companhia, fui cantando e conversando comigo até Coimbra.  Esta cidade é tão bonita, transparece uma alma vivente e crescente, vida. Olhei-a do alto de Santa Clara, num caminho pequeno que conhecia.

Esperava ordens dos céus que tardavam em me indicar o caminho, as Beiras ou Braga. Irritada ao principio, fui-me deixando encantar por estas caminhadas que gosto, pela face vivente e fascinante de viajar sozinha. Comando o volante e tenho o meu tempo.

Devagar (não tinha travões), fui vislumbrando o rio, atravessei-o, cumprimentei-o, cheio, vazio, negro e brilhante. Estava tanto calor e acabara de perceber que o AC também não funcionava.
Abracei-o mais tarde, tinha um papelinho com as ordens sabias e a direcção de uma ponte antiga sobre este rio que me acompanhava.
De grande, tal como eu, mostrou-se por vezes, tão pequeno e escondido que mal o via. Mas nas margens, as rochas de granito brilhante refletiam as cores das serras que fui percorrendo.
Gostei tanto do meu dia.


Finalmente, a ponte, antiga, onde só passa um carro, a seguir a Oliveira do Conde, terra que sempre achei bonita. Parei ,abri a porta e aspirei o quente, o verde, o silencio e a sensação de real isolamento, uno, um momento que valeu tanto...
A minha amiga e eu, cansadas, meias perdidas, sem som, sem musica, caladas...
Senti que a minha vida me é devolvida de mansinho, tratada e colorida, que estes caminhos já me aguardavam só para me lembrarem de como tenho andado esquecida.

Segui, sempre em frente, sempre ao lado do rio, parei na primeira de três Beiras que o meu Mestre se esquecera de mencionar. Casas de pedra, um café com mesas à porta, mãos que acenavam como só vejo nos sitios que não existem nos mapas, gentes que me olham sem julgar, que me julgam antes perdida por ali passar. Por perguntar, foi-me oferecido um café amargo,"paga da próxima vez".
Na  terceira Beira, sim pai, são três, Fiais, Ervedal e Vila Franca, cheguei ao meu novo destino "um largo de Igreja, ondes paras e ligas porque o resto é complicado"
Parei.
Parei principalmente para parar, para ver esta igreja, sentar-me em frente a ela, parar para pensar, para receber a minha mana, colher 3 limas e beber água.
Parei por valer parar e o tempo que tinha ainda que esperar, valia cada minuto.
Vi uma esquina, adivinhadora das sombras e das luzes, da mudança e do carinho, da pedra , do candeeiro que ilumina quando os elementos e os sentidos não bastam.
Vi um velhinho sentado numa ombreira com um cajado
Vi um cão vadio com ar feliz
Vi o senhor Sergio a chegar com um sorriso na cara, Graças a Deus, pai, um amigo!

Arregacei as mangas e mostrei que tambem sou capaz, sou carregadora de caixas e de força de vida, conversa amiga enquanto sentia pela primeira vez uma brisa acariciar-me a cara.

Carregadas, amiga e eu, sem travoes, sem som, voltamos ao rio que esperava.
Antes de chegar, ainda vi um por do sol vermelho, vermelho vivo.
Vou descansar, amanhã seguimos
O rio veio conosco
Amanhã falo dele às planicies do Sul.

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