12 setembro 2009

Perdemos

Uma sensação nova. Mais uma. Uma pancada forte e silenciosa, cá de dentro, uma pulsação que me afronta.
Perdemos tudo. A cegueira consciente, a surdez, no espaço de uma hora permitia-se ainda o acesso a ouvir. Não nos vemos em nada, enquadramos na distorção do entendimento o que pensamos alcançar. Por isso, perdemos, não nos reconhecemos, a saudade esconde-se atras do alcance da primeira impressão, a segunda persiste em convicção e , no fim, não vemos nada.
Arrogamo-nos em margens diferentes o direito a perceber. Idiotas convictos de uma racionalidade que nunca teve nem tempo nem espaço. Irreal. Pulsava eu em compassos perdidos entre a razão e o medo de acreditar não em nós, mas na própria vida.
Encaro de frente. É isso que custa. Olhar-me no fundo. Rir-me e chorar num tempo, entender o passado enquanto me sinto, e isso só a mim pertence. Antes de mais nada, se os laços foram soltos em pancadas, apanhada e erguida dos meus próprios destroços, tinha que me enfrentar a mim. Sei bem que não sei, sei bem tanta coisa que não vale nada.
Tanta cegueira, tanta falta de entendimento, tanto tempo.
E eu sei o que era.
Por isso perdemos.
Restolho disfarçado de trigo.
Teatro enfeitado de vida.
Um sentir que cheio se esvazia.
Merda de vida.

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