30 setembro 2009

Sou estranha

Mais um dia na serra, tenho os meus ouvidos cheios de cera do barulho das máquinas misturado com o da minha mente que não descansa de me buzinar.
Hoje pensei que, na verdade, foram poucas as vezes em que na minha vida, tomei uma decisão. Olhando para trás, tudo me parece fruto de processos longos, de discussões e altercações, nunca fui muito dada a impetos.
Sou estranha.
Se acordar com vontade de estar num sitio, seja onde for, e habituada a saber que irei sozinha, no momento seguinte, estou a caminho. Se preciso de ver um olhar, não me anuncio, já lá estou.
Sou corajosa ao ponto de me embrenhar na noite mais escura, sempre fui. Se, a meio da noite, o luar me chamar, salto do carro e aspiro cada pedaço de fresco que encontre, danço comigo, canto as musicas que gosto e pouco importa onde e a que horas estou.
Ja me vi de arma apontada, ja passei noites sozinha na estrada, ja amanheci no lado oposto, já enfrentei a dureza da desconfiança dos homens com quem trabalho, já fui gozada e aprendi a responder.
Mas, tenho medo de estar sozinha, mesmo estando e gosto...Só que me esqueço.
Tenho medo de mudar tudo porque o que levo comigo parece-me pouco, e o que levo, sou eu.
Tenho medo de ser magoada e, afinal magoo-me se não me enfrentar.
Sou estranha.
De pequena, era a primeira a alinhar nas loucuras, fossem elas quais fossem , Acabei por embargar a minha vida à procura na miséria mais podre, a verdadeira razão para não ser, herdei tentaculos que crescem dos meus braços, e lutas que travo para me encontrar, abrir os meus braços e acreditar quando já acredito.
Tão longa a distancia entre o que penso e o que sinto.
Sou tão estranha.
Não suporto magoar ninguém, tenho um campo infinito onde albergo cada pessoa que entrou na minha vida, não esqueço, não despeço, não consigo, não sei porquê.
Na verdade, contam-se pelos dedos as pessoas de quem gostei genuinamente, a quem fui capaz de abrir comportas e defesas, e odeio lembrar-me de quem dormiu ao meu lado tanto tempo sem ser capaz de me ver.
Decidir, parece diferente. Parece que na hierarquia, esqueço-me que estou em primeiro, que me acompanho para o resto da minha vida. E não foi isso que sempre aconteceu?
Hoje percebi que sou descartavel. Percebi que é possivel pegar numa borracha e apagar a existência. Chorei e lembrei-me que eu guardo os papelinhos todos da minha infância. Que, quando estou sozinha, tenho mil sentimentos por cada história que vivi, plena, foram tão poucas, no meio de tantas que, aparentemente grandes, de mim tinham quase nada.
Tão distante a diferença entre sentir e pensar...

1 comentário:

Inês disse...

Estranho é isto tudo que nos rodeia....