09 setembro 2009

I

Meio da manhã. Estou no escritório com a Mariana. Ouço-a cantar na outra sala. Tem uma blusinha amarela e está tão bonita.

Acordei de madrugada, andei a pé à chuva, senti-a na minha cara, arrisquei-me a percorrer as mesmas ruas, abriguei-me nos prédios onde antes esperava mais um pedaço de ilusão. Lisboa hoje recebeu-me molhada, testou a minha capacidade de reagir, enquanto esboçava um bom dia a um fantasma dormente de um mundo do qual já fiz parte.
Há momentos em que sinto as forças irem embora. Agarro-as com força, com a força que tenho. Há momentos em que sinto não suportar o momento seguinte. A verdade é que passo por eles, por inteiro, construida de um desiquilibrio emocional, sinto-me como nunca, aturo-me...

Trabalhar, quero trabalhar, quero colmatar cada minuto propenso a pensar. Se não, escrevo. Tenho escrito páginas em letras apressadas, num processo qualquer que desconheço. Há-de passar.

A caminhada é minha, estou a aprender cada passo, olho em volta, tantas vezes, tento entender-me, zangar-me. O espaço asfixia-me e liberta-me.
Ontem, falei alto, não me senti melhor. Falei de mim. Falei e ouvi-me. Senti-me indiferente e exigente.
A seguir, acaso, falei ainda mais, deixei-me falar a alguém estranhamente familiar.
A manhã trouxe-me a razão.
Lucida, quase louca.
Gosto cada vez mais da minha mota.
Hei-de gostar cada vez mais de mim.
Vou trabalhar. Um bom dia para mim.

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