21 setembro 2009

Percorro a minha memória em caminhos nos quais a sede se tornou realidade. 
Saboreio-os como se fossem agora. As gotas de orvalho escorrem lá fora, sinto o esfriar da minha face, tento ainda reter nas minhas mãos, só por um instante, o que o meu olhar abandona. 


As leis humanas nunca foram redigidas. Sei que há tentativas vãs de normalizar e enquadrar directivas, porém, falta a mão divina que nos anuncia a magia do que nunca seriamos capazes de alcançar. Talvez um dia nos tornemos maquinas pensantes e previsíveis, alvos de análises e antevisões. Por ora, resta-nos apenas  sermos almas mágicas ou somente fantoches de teatros inventados. Os primeiros viventes, os outros já estão mortos.


Estou a escrever no momento em que nasci, segundo a minha mãe. Não fui fácil, porque não queria nascer, contorci-me para ficar. Fui uma criança feliz, mas não havia um único dia que não olhasse em volta à minha procura. Sempre tive medo de me perder. E no entanto, vasculhei a vida, remexi-a e virei-a do avesso, escondi-me e procurei-me em cada lugar que hoje relembro.


Tive momentos, poucos, em que me senti, por inteira, não comigo, com a vida, momentos em que me deixei simplesmente ser, sem pensar. Penso demais, sempre pensei.
Gostava de não ter pensado tanto.
Ou se calhar devia ter pensado melhor.
Gostava de nunca me esquecer de ser quem sou.
Gostava de não me importar, nem de gostar tanto dos outros
E no entanto, gosto de tão poucos.


Aqui vejo, o quanto já fui simplesmente feliz e profundamente infeliz.
Gostava de ter sido menos de cada, ou mais ainda.
Gostava de ter ficado mais tempo aqui ou ali.
Gostava de não ter desacreditado de mim nos momentos em que as labaredas daquela razão enquadrada me negavam. Perder, ganhar.
Na soma, sobro eu, plena e vazia de mim.


A estrada que me aguarda, não sei, não a conheço. 
Enalteço o que fiz e o que sou capaz de fazer. 
Gostava de dar um abraço a uma velhinha agora. Encostar a minha cabeça no seu colo e deixar-me estar e, de seguida, sorrir por saber que farei sempre o contrário do que me ensinaria. Gostava de ouvir o velejador louco a esboçar-me palavras sábias e calmas. Gostava de ver um sorriso verdadeiro nas faces terrenas da minha mãe.
Gostava de dar um abraço à minha irmã, convicta que tudo valeu a pena.
Gostava de poder sentir espaço, para ser como sou.
Gostava de amar, mais ainda, de enlouquecer por amar. 
Gostava.


E no entanto, viva, despedida e sofrida, estou contente, não sei porquê.
Nem faz sentido o que digo.
Afinal, tanta vivência e sabendo tanto, não sei nada.
Parabéns Sandra.

3 comentários:

continuando assim... disse...

e nunca é suposto saber nada !!
porque nada é completamente verdade ... :)

beijinho
´
teresa

Inês disse...

Parabéns! Não por um dia, mas por uma vida inteira. Mereces festejar!

marta disse...

sem comentarios minha flor...

só a felicidade de estares, por fim..nos meus dias...

que bem escreves caraças...!!!

afinal...o que tu 'gostavas' era o que eu gostava....e ...gostaríamos...e... gostaremos...


tu sabes como é..né...¿¿??