30 setembro 2009

Sem amor, não se é nada, pensando ser-se

"Não se faz nada sem amor, sem amor, as pessoas andam perdidas".
Entre um soluço contido e um abraço, ontem vi um sol branco por-se, ainda na serra. Ontem deixei-me lá ficar, entre amigos de verdade, as pessoas que genuinamente me acolhem, sem truques, nem julgamentos.
Ia cheia de papeis para assinar e coisas para dizer. Trouxe poucos e pouco disse, mas quando desci a serra, já noite cerrada, vinha emocionada e embalada em mim e no som do saxofone que se anunciava ali perto.
Há muito tempo que sei tão mais que isto que ando vendo e auscultando, num espaço que não me pertence nem sinto. Sou uma pessoa diferente, eu sei que sim, trago comigo todos os dias um sorriso na  boca e nas minhas mãos um perigo que me sossega, enfrento distancias que não me cansam, estradas vazias e altivas, nas quais me cruzo, por acaso, com os casos de minha vida. Ninguém nunca esperou no meu albergue, apenas no meu destino. Ao longo dos anos, ganhei respeito por mim mesma, aprendi a perceber o que rege gente grande, que admiro, tão distante de outras de que julgo fazer parte, nem fazendo.
Vi nos olhos do sr. António, a compreensão humana, em vez de hipocrisias disfarçadas, sem vivências que fundamentem nada, vi a minha voz embargada e uma vontade de me mostrar, o que tem sido, a quem sente antes de pensar. Dei um abraço à Anabela, que sabe de mim.
Olhei para os meus pés, brancos, a minha saia empoeirada, aquele fim de dia de tons claros, o barulho  do desligar das  maquinas, a serra preparava-se para me ensinar que a minha verdadeira essência está em cada momento em que me digo bem alto que sou como sou.
Meu bom amigo, o sorriso bonito, o mesmo boné de banda, umas mãos feridas, grandes.
"Oh mulher, tu havias de me ter contado isso antes, tu não vês?"
Eu via, mas estava cega de ver, eu sabia mas perdi-me de acreditar no que sou, eu julguei-me em verdades distantes que são migalhas do que tenho cá dentro, eu verguei-me ao julgamento de quem se calou, sem nunca ter sido capaz de me ver. Nunca, nunca seria mais do mesmo, porque o mesmo não é nada, o mesmo é o primeiro ponto da reticencia que nunca teve direito a existir, o mesmo é obra embargada pelo medo de seguir uma estrada que não se conhece mas que é preciso, o mesmo é ausentar-se da vida.
"Sem amor, as pessoas andam perdidas".
Tapei a minha boca com o carinho das palavras sábias que ouvi, por detrás do contorno da serra já cinzenta, das luzes minúsculas dos vales efémeros, onde habita o conhecimento ressequido, embargado de sentimentos. Mais do mesmo é ler páginas e páginas passadas, iguais, iguais, iguais, por mim e por mais. "Onde é que estava a diferença?"
Multiplicam-se, proliferam seres verdes, quase espaciais, frios, gelados, ausentes e incapazes de se sentarem numa pedra poeirenta e limitarem-se a assumir o erro de simplesmente ser. Eu amei, amei de verdade, amei a vida, amo a minha pequenês, cada erro que cometi, estendi os meus braços traçados e pedi, por antes de mais nada sentir.
Não suporto ver o que vejo, não tenho estomago para ver a minha vida virada de "pantanas" e ainda me sentir culpada. E a mim? Alguém viu? Alguém lutou por mim?
Estive sempre sozinha, julgando-me acompanhada, percorri estradas nocturnas, consciente da minha distancia em troca da escolha de mim. Hoje, olho em volta e sinto quem realmente me ama, quem me acompanha.
Já não tenho vergonha, sou assim, sou meia maluca, desregulada, não sei onde pertenço, nem sei o que fazer, mas estou aqui, não me escondi, estou aqui, escrevo por mim, grito o que sinto, hoje sim, amanhã não, e se alguem me perguntar, é só porque ao contrário de quem se limita a saber, eu admito o meu medo e desconfiança, eu assumo ainda uma esperança que guardo cá dentro, não digo palavras bonitas e certeiras, vomito os rasgos soltos de uma alma vivente.
Estou tão cansada de me entender, estou exausta de querer enquadrar o que já é, mesmo assim, eu hoje tive um momento, com uma mão amiga no meu ombro, que nunca me sentiu, mas que me conhece tão bem, que sabe o esforço que me assiste em chegar ali e não me queixar nem do pó nem dos olhares descrentes, de não ter horas de voltar, porque pertenço mais ali do que a outro sitio qualquer.
Faço centenas de kms todos os dias. Entro na minha cidade e respiro-me, subo a serra ou piso as searas secas de Setembro e encontro-me e ainda agora, ando aqui, armada em parva à procura de um entendimento  que não existe, nunca existiu.
"Sem amor, não há nada!"
Seria incapaz de não acreditar, seria incapaz de ser fria e calculista, não sou assim, seria incapaz de ver sofrer e não fazer nada, tenho o meu coração dormente e cheio de vida, sou bonita por dentro, não estou adormecida, nem me refugio na banalidade.
Já noite fechada, parei no meu sitio, pingado de luzinhas nos vales mortiços, a neblina crescente em baixo, joguei fora o meu lixo, varri-me do que não preciso.
Obrigada meu bom amigo Arlindo, obrigada!

2 comentários:

Sonhadoremfulltime disse...

Um texto brilhante, sonoro, um grito de libertação. Uma visão de coragem, em que as palavras falam por si.
Sim, sem amor, nada existe.
Amor!
Verbo sem tempos que vive do rorejar do coração e só sabe a quem sabe saborear do deleite, sentir o paladar de todos os sentidos misturados na descoberta do sensual, do perfume, do ofegante poder de beber e respirar outro ser.
Amar é como apreciar uma flor carregada de magia, de perfeição, odor e prazer. É deixarmo-nos entrelaçar pelas folhas verdes da esperança.
Amor! Possuidor de uma voz que não fala e um olhar que pela voz tudo diz. Tem uma neblina matinal para nos abraçar no nosso espaço. No nosso lugar. E do saber amar ficamos somente nós.
O fim da tarde estava frio. As pernas tremiam de agitação e palpitavam como o meu amargurado coração.
O vento gélido esbofeteava-me o rosto e invadia-me os olhos fazendo-os chorar. Por entre lágrimas de gelo acalentei o coração ingénito de sofrimento quando te vi.
Respirei fundo engasgando-me com o sopro do vento que solto corria e uivava como um lobo liberto ao luar.
O aroma do café que tomei com sofreguidão despertou-me do sonho.
Será que alguma vez o encontrei?

Arte Bela disse...

AMIGA QUE DISIDAS O MELHOR QUE ACHARES PARA TI SEM TARES A PENSAR O QUE OS OUTROS VÃO PENSAR OU DISER PORQUE SE ACERTARES FOSTE TU QUE ACERTAS-TE SE ERRARES FOSTE TU QUE ERRAS-TE MAS A VIDA E ASSIM MINHA AMIGA UM RISCO MAS A VIDA SEM RISCO ERA UMA VERDADEIRA SECA DIS LA A VERDADE MAS PARA TUDO ESTOU AQUI MESMO SENDO UMA AMIGA PEQUENINA BJ BOA SEMANA