21 setembro 2009

Sempre li que tu existias, sonhava acordada em adolescente com a tua presença, segura, indecifrável.  Lia páginas de viagens e odisseias que tu protagonizavas e outras mais amenas, noites claras em que me imaginava ao teu lado, e te contava histórias minhas e me embalavas com as tuas. Ouvi falar de ti na boca de quem sorri na vida, por mais nada.
Mais tarde, neguei-te com todas as minhas forças, tornei-te ilusão minha, desenquadrada das vivências que guardava, ofendida por sonhar tanto. 


Amei-te antes de te conhecer, amei-te sempre. Se os autores falam do que a alma lhes grita, és o homem da minha vida, sempre foste. 
Como fomos capazes de nos desencontrarmos e perdermos tanto?


O sol põe-se na minha porta, ainda reflecte a minha cara quente, a noite anuncia um dia em que os elementos se ordenam como nunca deveriam, o silêncio transborda de palavras que antes de molhadas, eram livres, tresloucadas como as sentia. Amarro todas as minhas expressões de tanto que se queriam soltas. Grito-lhes em voz alta que me deixem entender. 
Foste sempre tu, sabes?


Não foram momentos dispares, nem caminhos que se cruzaram ao acaso, foi qualquer coisa que nunca saberia descrever, simplesmente porque não existe forma de o fazer. Foi o despertar de uma ausência que me conjugava, que me discernia em cada sentido.
Falávamos em silencio o que agora gritamos em sentidos violentos, demasiados.
Os meus pés trocaram-se, como sempre, cai numa encruzilhada em que tentava discernir o impossível, moldada por fantasmas, por coerências sem contexto. 


Posso encenar qualquer papel, num palco que me foi sempre estranho, em que me contrasto por forma a enquadrar-me e parecer bem, posso criar a minha própria história. Por detrás do pano, fica sempre o que guardo, uma, mil imagens que me reconstroem e me tornam, una, quem sou. No bailado de adjectivos e interjeições, nas suposições que me enganam, fico por detrás da imagem, discrente, descoberta que de ilusão se despertam realidades.


3 comentários:

marta disse...

"O Amor não se conjuga no passado, ou se ama para sempre ou nunca se amou verdadeiramente."

Fernando Pessoa

Luz disse...

Como compreendo estas palavras e este sentir. Posso dizer que também sei quem é o amor da minha vida e, que o soube no primeiro momento. Todos os dias o confirmo, é ele! E como o amo! Mas porque será que a vida insiste em trocar-nos a voltas? Não podiamos também dar volta às voltas que a vida troca e sermos mais felizes?

Abraço

Inês disse...

Mudou tudo mana??? esta imagem que aqui, há um ano atrás despejavas... Mudou tudo??? è o meu maior desejo! Parabéns! Muitos Parabéns!