11 setembro 2009

Distancia

Não tirei fotografias. Só esta.
Uma estrada deserta, 30 kms de curvas que já vou conhecendo.

Já passou o tempo em que tinha medo de andar sozinha,
já passou o tempo em que chorei a meio da noite, numa outra serra, a trocar um pneu. Na escuridão, para ninguém me ver, ciente que o primeiro numero nem atenderia.
Já passou o tempo em que respondia "Não tem medo de andar aqui sozinha?"
O tempo em que misturava a sensação que se algo me acontecesse, ninguem notaria, com a musica que usava para me esquecer.
Já passou o tempo de tanta coisa...

As estradas são as mesmas, minhas conhecidas, vejo-as com outros olhos agora, encaro-as como os momentos que vivo, a distancia percorre-me mais que eu a ela, já não tenho medo, na verdade acho que nunca tive.

Sonhava com alguém que me esperasse sem eu estar à espera, sonhava com esta imensidão refletida nos passos que aspirava na minha realidade.
Esperava que um dia, alguém me visse, um dia.
Esperava que sem falar, no que me faz minha, alguem me chamasse, alto, entendesse a verdadeira essencia que me movia.
Desci e subi esta serra, desta vez, convicta que a distancia não existe, fixa no meu horizonte, esse ao longe.

No cimo dela, cheguei, sentei-me com um amigo na pá de um bulldozer e falei da vida, ouvi falar de mim no contexto que me pertence.
Lembrou-me dos anos que me vê marcar uma diferença, lembrou-me de coisas que estupidamente me esqueço e eu, que me sinto mais  ali do que numa mesa de café rodeada de gente transparente e vazia. Sei que é reprovavel para muita gente, é o que me faz, o que sustenta.

Atravessei o Algarve, cumprimentei o Alentejo, sem deixar de me repetir que a minha casa me esperava, com o meu amigo de almofada na boca.

Ja passou o tempo em que não via que me senti sempre sozinha.

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