18 setembro 2009

Daqui


Daqui a uns dias, terei seis meias duzias e meia de anos.


Muitas vezes, ao longo da minha vida, garanti-me que por esta altura, ou estaria perdida na escuridão, suicida consciente ou, estaria de pés assentes numa praia deserta de rosto sorridente salpicada de sal e areia, saborendo as memórias da minha vida, de conquistas e dormencias, acarinhada pelas minhas mãos molhadas de orgulho e vontade de ser mais ainda.
Pensei que nesta altura teria os filhos que nunca tive mas que concebi e amei incondicionalmente.
Pensei que acordaria ao lado de alguém, despida, sorridente e com vontade de ser, tal como sou.
Teria uma casa antiga, com um sofá branco e estantes cheias de livros que me encheriam de vivencias absorvidas. Teria uma razão.
Teria amigos presentes.
O meu amigo de sempre.
Que antes de despertar , cada conto protagonizaria o meu dia, numa vontade constante de me embrenhar cada vez mais na vida.
Que, naquele momento em que o dia já não é dia e a noite se anuncia, havia de encostar a minha cabeça nuns ombros largos e, em silencio, deixar-me estar
Que havia de acordar, sem tempo, e falar baixinho vontades que nem eu entendo.
Que perder a razão seria talvez, o fruto de tantos despertares de que formaria a minha caminhada.

Ser tudo seria somente o reconhecimento de nada ser, ainda.
Daqui a uns dias, lembrar-me-ei e se calhar, sento-me a pensar.

Que a meio da minha vida, quem sabe, deste despertar doído, desta consciencia louca de raciocinios, desta invasão, se ergue uma voz estridente que me grita em rasgos de emoção.
Não sei.
Mas esta luz que à minha frente, insiste em me mostrar, mesmo tarde, uma nevoa tão nitida, as mãos estendidas dos meus filhos, os ombros tão largos da razão, os livros que li e que me ensinam e os meus sonhos construidos só e apenas de mim.
Daqui a meia duzia de dias, nem suicida, nem feliz.
E continuo a não saber nada.

Não vou estar nessa praia, hei-de encontrar uma mais bonita, mais pequena.
Vou-me encostar a uma rocha molhada e celebrar, a caminhada da minha vida que me está a doer tanto.



1 comentário:

Inês disse...

Fizeste-me chorar... e, estranhamente, não tenho nada para te dizer... fico só assim à espera que nos encontremos, um dia destes, na praia deserta de rostos sorridentes salpicadas de sal e areia.